Capítulo 18 – Vem me buscar.
"Já sofri demais vem me
buscar... Nada existe sem você aqui... Não me deixe é tempo ainda... Salva a
minha vida... Não me deixe tão sozinha aqui... Vem pra me dizer... Que
ainda existe uma esperança... De recomeçar... Vem diga que sim... Diz que
me ama e que vai voltar pra mim."
Vem
me buscar – Bruno e Marrone
Acordei sentindo seus braços ao
redor do meu corpo e sorri por saber que tudo tinha voltado ao normal, mesmo eu
tendo sido a responsável por toda a bagunça.
Léo desde o começo quis ficar ao meu
lado, mas sempre me achei um peso para todo mundo, herança da minha vida com
Maria Elisa.
Levantei meu corpo devagar e fiquei
observando meu amor dormir serenamente, podendo até jurar que Léo estava
sorrindo.
O vendo ali tão calmo, cantei
baixinho mais uma música que tinha tudo a ver com a gente.
Era, Vem me buscar, também de Bruno e Marrone, e naquele momento a letra
traduzia o que estava sentindo.
-... Já sofri demais vem me buscar... Nada existe sem você aqui... Não me
deixe é tempo ainda... Salva a minha vida... Não me deixe tão sozinha aqui...
Vem pra me dizer... Que ainda existe uma esperança... De recomeçar... Vem diga
que sim... Diz que me ama e que vai voltar pra mim.
-Estou aqui, pequena – levei um
susto, saindo do transe da música e vendo Léo com os olhos abertos beijando
minha mão, que antes acariciava seus cabelos.
-Desculpe por ter sido tão infantil!
– sentei reta sendo acompanhada por ele.
-Eu nunca te julguei e não será
agora, Bia. Vi com meus próprios olhos como ficaste em São Paulo – me encolhi.
– Shiu! Já passou – passou os braços
na minha cintura, puxando meu corpo ao dele.
-Eu não queria que fosse assim, o
João... – comecei a chorar – ele se sentiu tão culpado.
-Mas não é certo, já disse isso para
ele. O que passou, passou. Agora o importante é você, a sua felicidade – tocou
meu rosto, carinhosamente.
-Eu não quero que fique com a
Daniela, amor – aconcheguei-me mais no seu peito desnudo. – Tu és meu.
-Eu sempre soube disso. Olhe para
mim, Maria Beatriz – ergueu meu queixo. – Eu disse lá atrás que não sairia do
seu lado e que não a deixaria desistir.
-Obrigada – lhe dei um selinho. – Eu
quero ser feliz, amor – sorri. – Quero viver contigo. Quero brigar, voltar a
ser sua marrentinha – me apertou, fazendo cócegas.
-Tu nunca deixaste de ser minha
marrentinha, Maria Beatriz.
-Para, Léo – me contorci. – Eu fico
sem ar.
-Vou parar se prometeste nunca mais
sair como uma louca de carro por aí. Eu quase enlouqueci, pequena.
-E chamou o pai – escondi meu rosto
no seu pescoço.
-Tive medo de não querer me ouvir e
as coisas piorarem.
-Eu sei – senti que iria voltar a
chorar, então resolvi mudar de assunto. – Hoje eu passei por um tratamento de
choque, sabia?
-Não. O que foi?
-A Jessy, o Dé e o Boi foram lá em
casa e disseram que iriam começar a juntar tu e a Daniela hoje na roda de viola
– Léo gargalhou, beijando meu pescoço.
-E acreditaste neles?
-Eles foram convincentes, quase
morri do coração.
-Mas não foste tu que pediste
aquilo, Maria Beatriz? – ele estava me testando.
-Leonardo, eu estava surtada – o
olhei brava. – Quase tive um treco só de me imaginar sem vocês.
-Isso nunca iria acontecer, mesmo
que tu me expulsasses mil vezes da sua vida.
-Eu nunca quis fazer isso, só queria
que risse de novo, como estava fazendo com ela.
-Estou rindo hoje – toquei suas
covinhas da bochecha. – e é contigo, guria. Na verdade estou gargalhando hoje,
pequena. Acreditar que aqueles três iriam jogar a Daniela no meu colo foi
demais – soltou aquela gargalhada que aquecia sempre meu coração,
-Pare de rir, não teve graça.
-Claro que teve, tu estas aqui por
causa disso – me abraçou mais.
-É.
-Promete nunca mais fugir?
-Não tenho mais motivo para isso –
olhei fundo nos seus olhos. – Não consigo ser feliz sem ti, Léo. Não consigo
respirar, viver, sorrir, brigar.
-E eu quero estar aqui, mesmo se for
para chorarmos juntos, entendeu?
-Entendi – me esfreguei nele. –Mas
será que podemos namorar mais um pouquinho. Estava com saudades.
-Do meu corpo sarado? – fez uma
careta.
-De você inteiro. O pai disse que
não tinha hora para voltar hoje.
-Então tu não vais voltar, pequena –
sorrimos e ele nos jogou deitados na cama.
E naquela hora nada mais precisou
ser dito. Léo me invadiu, nos levando novamente a sentir a felicidade plena,
saindo por todos os nossos poros.
...
Acordei com a claridade batendo no
meu rosto e quando tateei a cama percebi que estava sozinha. Sentei, abrindo os
olhos e vi que já deveria ser tarde, pois o sol estava forte lá fora.
-Léo! – levantei, saindo a sua
procura. – Amor... – nada. – Onde tu se meteste, hein, peão?
Quando voltei para o quarto vi um
bilhete em cima da cama, que havia passado despercebido por mim e quando o
abri, lembrei da carta que escrevi para ele na praia.
Bom dia, pequena.
Tive que sair cedo para resolver umas
coisas com meu pai na cidade. Vou tentar
não demorar, mas se não chegar até a hora que acordar, ligue para o Boi e
ele te leva para casa.
Te amo, viu.
E se tentar fugir mais uma vez, te
coloco amarrada no pé dessa cama para sempre.
Seu peão, Léo.
Sorri cheirando o papel e resolvi
antes de ligar para o Boi dar uma ordem na nossa cabana.
Fui até a cozinha pegando os
produtos de limpeza que tínhamos comprado algum tempo atrás e fazendo um coque
nos cabelos deixei a faxina tomar conta do meu corpo, limpando toda nossa casa.
Sim, aquela era a nossa casa. E
desde que Léo a construiu, a tratávamos como tal.
Íamos ao supermercado, comprando
produtos de limpeza, refrigerantes, salgadinhos, doces, chocolates. Também
gostava de sair com a Jessy para comprar almofadas, lençóis e outras coisinhas
a mais, que a partir do dia que começamos, digamos assim, ter nossa vida
sexualmente ativa, ficavam ali, na gaveta da provocação, como o Léo tinha
apelidado.
Feliz, arrumei toda a cabana, que
não era grande e depois de tomar um banho, liguei para Boi vir me buscar, pois
não tinha nem sinal do Léo ainda.
Nosso amigo chegou, para variar,
cheio de gracinhas, perguntando como havia sido nossa noite, se tínhamos nos
entendido e principalmente, que estava feliz por me ver batendo nele.
-Boi, vou precisar de ti – já
estávamos quase chegando em casa.
-O que queres, marrentinha? Já vai
começar a me dar trabalho.
-Não reclame, foi tu que vieste me
ressuscitar, agora aguente – revirei os olhos, sorrindo.
-Do que precisas? – ele não aguentou
rindo também.
-Que me leves para pegar os convites
do show com o Dé. Quero fazer uma surpresa para meu peão.
-Ok! É caminho, a gente passa lá. E
depois?
-Vou escrever uma cartinha e tu vais
entregar para o Léo – pisquei, meiga.
-Estás achando que sou um pombo
correio, Maria Beatriz?
-Estou.
-Ok! O que não faço para ver esse
sorriso – beijei sua bochecha e fizemos o que tinha que fazer.
Boi prometeu que depois de me levar
para casa, iria direto para a fazenda entregar minha encomenda para o Léo. Só
tinha que esperar ele me ligar, o que não ia demorar a acontecer.
Entrei em casa e João veio da
cozinha, sorrindo e me abraçou.
-Tu disseste que não tinha hora para
voltar – cheguei, rendida.
-Se voltares todos os dias com esse
sorriso, mando suas coisas para a cabana – beijou meus cabelos.
-Estás me expulsando, Delegado?
-Só quero te ver feliz.
-Eu estou radiante hoje e semana que
vem vamos pedir para o médico diminuir a medicação, ok?
-Fico feliz, filha. Foi o Léo que te
trouxe? – olhou pela janela. – Por que não entrou? Precisa avisá-lo que não vou
atirar – gargalhei.
-Não foi ele. O Léo saiu cedo para
resolver os negócios da fazenda. O Boi me trouxe – beijei seu rosto. – Mas eu
aviso. Agora vou ligar para a Jessy para fazer o cabelo e as unhas, pois hoje
vou levar o Léo para passear.
João gargalhou e subi para meu
quarto com o celular na orelha.
Já no salão, uma hora depois, o
escutei tocar e atendi no segundo toque.
-Quer me matar do coração, Maria
Beatriz?
-O que foi que eu fiz dessa vez,
amor? – não estava entendendo nada.
-Sabe quantas vezes já te liguei?
-Não – ele estava bravo. – Desculpa.
Estava com o secador ligado aqui no salão.
-Salão, quer dizer... Salão de
beleza? – sorri.
-É. Hoje vou levar meu namorado para
sair, precisava estar bonita.
-Você é linda, pequena! Eu adorei o
convite da balada hoje! – percebi que Léo também sorria do outro lado da linha.
-Te devo um show da Gurizada, peão.
-Na verdade não troco nenhum
showzinho por aquela noite – suspirei apaixonada, chamando atenção de Jessy e
das manicures.
-Eu também não. Já terminou por aí?
-Já. Estou com o Boi tomando uma
cerveja e escutando ele lamentar por ter sido feito de pombo correio –
gargalhei. – Que saudade desse sorriso.
-Tu faz isso comigo.
-Então estamos quites, marrentinha.
-Me pega às dez?
-Em ponto.
-Tudo bem, estou terminando aqui, a
gente se fala mais tarde.
-Ok!
-Léo... – o chamei.
-Fala, pequena.
-Te amo muito, nunca se esqueça
disso.
-Como esquecer se tu vais me
aperrear pelo resto de meus dias, só para me lembrar – sorrimos. – Também te
amo, pequena. Beijo.
-Beijo – desliguei ainda suspirando.
-Como é bom ver vocês de novo desse
jeito – minha cunhadinha me abraçou.
-Também estou feliz, amiga. E devo
isso a ti.
-Eu sei que deve! – deu de ombros.
-Mas tinha que ser irmã do Leonardo!
– a empurrei.
-Para tu me amares tanto quanto ele.
-Verdade.
E assim continuamos nosso momento de
beleza. Fofocando e muito animadas para a nossa noite, já que Jessy e André
iriam jantar fora e não estariam com a gente a noite.
Já pronta, andava de um lado para o
outro a espera de Léo que estava meia hora atrasado.
-Calma, filha. Deve ter acontecido
alguma coisa – João tentava me acalmar do sofá.
-Mas por que não atende o celular? –
disquei pela décima vez vendo cair na caixa postal.
-Tu sabes como são essas coisas. O
Léo deve ter tido algo para fazer na fazenda – o celular gritou na minha mão,
me assustando.
-É ele – o pai deu de ombros,
voltando ao seu filme.
-Pequena, desculpa – ele estava
esbaforido.
-O que aconteceu, Léo? – fiquei
preocupada.
-A Mimosa resolveu parir de novo,
estou no curral.
-Que droga.
-Vai na frente com o Boi, ele está
passando aí para te pegar. A gente se encontra lá.
-Não quer que eu vá te ajudar,
lembra aquela vez? – eu já tinha ajudado Léo em um parto de vaca alguns meses
atrás e tinha sido um sucesso.
-Não, pequena. Obrigado. Acho que
não vai demorar, e tu já deves estar linda e cheirosa me esperando.
-Estou mesmo – sorrimos. Havia
escolhido um vestido preto, tomara que caia, saltos altos e cabelos escovados e
soltos.
-Me espera na boate que não demoro.
-Tudo bem – escutei uma buzina – o
Boi chegou. A gente se fala depois, e Léo...
-Oi – ele riu sabendo o que ia
falar.
-Te amo – soprei um beijo para o pai
de longe, pegando minha bolsa e saindo em direção ao carro de Boi.
-Também te amo, pequena. E juízo. Já
dei as instruções para o Boi.
-Eu sei que deu. Beijo e não demora.
-Não vou – desligamos assim que abri
a porta do passageiro.
-Boa noite, Boi – beijei sua
bochecha.
-Além de pombo correio agora virei
babá. É muito para meu final de semana – bati no seu ombro e gargalhamos
juntos.
Eu estava feliz.
Meus amigos estavam felizes...
Meu amor estava feliz
E hoje só queria me divertir ao lado
deles.
A fila da boate estava grande, mas
logo entramos e começamos a nos divertir.
Boi era terrível e tinha o dom de me
fazer rir a cada palavra que dizia. Quis pegar uma bebida desinfetante, como
ele e Léo apelidavam meus coquetéis, porém ainda estava tomando remédio e não
podia misturar.
Percebi em um momento da festa que
ele ficou quieto, com o olhar fixo. E isso acontecia quando ele encontrava
alguma presa. Só era essa que me faltava, não iria ficar sozinha ali de jeito
nenhum. Ele teria que esperar o Léo chegar.
Porém quando segui seu olhar, vi que
a menina parecia ser tímida, principalmente por me ver ao lado dele.
-Vem, Boi. A gente precisa se
apresentar – o puxei pela mão.
-Do que estas falando, sua maluca.
-O Léo um dia me disse que ser amigo
atrapalhava na paquera.
-Sei muito bem o dia que ele te
disse isso – revirei os olhos. – Foi aqui mesmo, quando os dois queriam se
pegar, mas estavam fingindo ser amigos.
-Boi! – bati em seu ombro, rindo.
-Vamos logo, antes que a menina
bonita suma das nossas vistas.
-Estou indo – foi minha vez de ser
puxada por ele.
Chegamos perto dela e com toda a
cara de pau que Deus nos deu já fui logo me apresentando.
-Oi, tudo bem? – ela assentiu. – Meu
nome é Bia e esse meu amigo, Boi, quer dizer... – ele detestava seu nome de
verdade.
-Só Boi. Encantado – os olhinhos dos
dois brilharam. Que lindo.
-Prazer, Mirela – sorriu tímida.
-Tu não és daqui, certo?
-Não, acabei de chegar, estou
começando esse ano.
-Em que curso?
Nossa! O Boi estava tão entretido
que nem falava.
-Psicologia – ele gargalhou mais
alto que a música que tocava.
-Vai ser bicho da maluquete aqui, tome cuidado!
-Está falando para ela tomar
cuidado? - bati no seu ombro de novo. –
Quem acaba com os bichos o ano inteiro não sou eu, Luis Carlos – ele revirou os
olhos.
-Vocês são meio malucos.
-Olha, guria, eu não, mas ela é, e
de remédio. Tiramos da camisa de força ontem – fechei a cara, sabendo que era
parcialmente verdade. – Desculpa, Bia.
-Não foi nada – vi meu celular
vibrar e sorri.
-"É o amor! Que mexe com minha
cabeça e me deixa assim."
-Cala a boca, Boi – me afastei,
lendo a mensagem de Léo.
“Porra!
Quase te chamei de volta para cantar para essa vaca.”
Sorri, digitando de volta.
“Não
era só enfiar a mão, peão?” - Provoquei.
“Já
estou indo tomar banho, me espere, estou chegando, e quando te pegar...”
“Acho
bom vir logo e me pegar de jeito. Sabia que estou de vela para o Boi e uma
menininha?”
Enviei, sentindo-o vibrar logo em
seguida.
“Sentindo
daqui seus olhos revirando, estou chegando para te salvar e casar o Boi”.
“Vem
logo. Estou com saudades”.
Nem três minutos a mensagem de
volta.
“Eu
também. Tu não imaginas o quanto”.
“Imagino
sim, te amo”.
“Também
te amo, pequena. Juízo aí!”
Voltei para Boi e Mirela e percebi
que os dois já estavam se entendendo.
-O Léo já terminou por lá.
-Pensei que ia cantar para a vaca
hoje.
-Está querendo apanhar mesmo –
empurrei seu peito. – Liga não, a gente é assim mesmo, Mirela – a menina
sorriu, ainda mais tímida.
-Vocês são divertidos.
-É que ainda não conhece o namorado
dessa aí e o restante da trupe – vi que ela respirou aliviada e cochichei para
Boi.
-Viu só. Ser amigo atrapalha –
gargalhamos.
-Então, Mirela. Tu vais amar o
curso.
E a conversa fluiu naturalmente,
porém, comecei a ficar inquieta com a demora de Léo.
O show começou, mas Boi decidiu que
era melhor a gente ficar mais ao fundo da pista.
-É melhor ficarmos aqui para o Léo
achar a gente mais fácil – cochichou no meu ouvido, já com a mão na cintura da
Mirela. Sorri feliz por meu amigo. Todo mundo tinha a hora de sossegar e acho
que ela era uma menina legal.
Estava tão aérea vendo a
movimentação das pessoas e do show que era bastante animada que não percebi o
momento que tudo começou.
-Bia, vem comigo, está pegando fogo.
-O quê? – olhei assustada para Boi
que já tentava nos empurrar para fora da boate.
-A gente precisa achar a saída – o
cheiro estava ficando muito forte e comecei a ficar tonta por conta do local
fechado.
-Preciso avisar o Léo. Ele não pode
entrar, Boi.
-A gente precisa sair daqui, Bia –
gritou.
Peguei meu celular enquanto Boi
empurrava as pessoas a nossa frente e disquei para Léo, já desesperada.
-O que está acontecendo ai, Bia? –
ele atendeu de primeira.
-Está pegando fogo, não entra.
E quando olhei para o lado senti que
não tínhamos como escapar. Nós morreríamos ali como as pessoas que estavam
sendo amontoadas ao nosso redor.
Ai coração na mão. Fê ansiosa pelo próximo capítulo
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