quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Léo e Bia... Capítulo 17


             Capítulo 17 – Salve a minha vida

" Todas as noites me lembro dos nossos planos... Esqueço que um dia você               partiu sem dizer nada... Quero de volta essa felicidade... Estou sonhando, não quero mais acordar pra realidade... Esses meus sonhos vão me iludindo, me tiram a razão... Contos de fadas são só imaginação... Eu quero um dia entender por que a vida só me faz sofrer... Se o meu destino é viver sem você não quero mais viver."
Nossas memórias – Bruno e Marrone

Voltamos para Santa Maria dois dias após do Ano Novo.
Depois que nos apresentamos novamente, sem medos e receios, curtimos muito a festa que a pousada estava proporcionando.
Fizemos amor como se fosse a primeira vez e percebi que ali estávamos nos conhecendo de novo, a cada toque, a cada beijo,porém, nada tirava a angustia de dentro do meu peito mesmo me abrindo inteiramente para Léo, não consegui voltar a sorrir.
Contei para João com a ajuda do meu namorado tudo que havia acontecido na minha vida naqueles últimos cinco anos e pela primeira vez vi meu pai chorar de soluçar, abraçado comigo em seu colo.
Marcamos também uma consulta com um psiquiatra, que me encaminhou para terapia e mudou toda minha medicação, substituindo-a por um tratamento alternativo, como florais e acupuntura.
O mais triste e desesperador foi ver meu pai brigar com Maria Elisa. Foram inúmeras ligações, com João explodindo com ela várias vezes.
“Se depender de mim tu nunca mais colocará os olhos na minha filha.”
“Como pôde ser tão displicentes com a saúde dela?”
“Tu não és mãe, Maria Elisa.”
“Como pude me enganar tanto? Ela é só uma garota querendo nosso carinho.”
“Uma pessoa egoísta como tu, mereces morrer sozinha. Nunca mais nos procure.”
Aquelas conversas me machucavam ainda mais, principalmente quando via o arrependimento nos olhos do meu pai por não ter  lutado para ficar comigo e isso, também era culpa minha.
Me entreguei cada vez mais à dor que não saia do meu peito. Não tendo mais prazer em sorrir, brincar ou até brigar e percebi que mesmo vendo Léo todo o dia não conseguia mais deixá-lo  feliz.
Passada algumas semanas, fui até a faculdade entregar um trabalho, depois que tudo que havia lutado para estar naquele lugar, não poderia dar mais esse desgosto a João.
Chegando lá, encontrei Léo conversando com Daniela que tinha passado no vestibular e começaria a estudar ali no próximo semestre e como um estalo pensei que já que não podia mais fazer meu peão feliz, faria a coisa certa e  o deixaria livre para quem sempre teve essa disposição.
Me aproximei vendo os dois rindo, porém, quando ele me viu imediatamente seu semblante mudou e correu até mim, preocupado.
-Pequena, por que não me ligou? Eu iria te buscar – veio para me dar um selinho, mas virei o rosto.
-Não precisa, ainda sei dirigir – tentei sorrir. – Oi, Daniela.
-Oi, Bia. Tudo bem?
-Sim. Nós podemos conversar? – olhei para Léo.
-Claro. A gente se vê, Dani.
-Ok. Tchau.
Já perto da caminhonete nenhuma palavra minha precisou ser dita para que ele se desculpasse.
-Não é nada disso que tu estás pensando – sorri acariciando seu rosto e isso o deixou ressabiado.
-Ela te fez sorrir, – toquei as covinhas da sua bochecha – há quanto tempo tu não rias, amor?
-Vai passar e tu vais melhorar - repetiu meu gesto.
-Acho que não. A impressão que tenho é que quebrei em mil pedaços e não tem mais jeito – me afastei ficando de costas.
-O que está acontecendo, pequena?
-Nada. Só não posso te dar mais a alegria que tínhamos até nas nossas brigas. Não consigo trazer a sua marrentinha de volta, Léo.
-A gente vai conseguir, – aproximou-se abraçando minha cintura – juntos.
-Vocês formam um belo par.
-Do que estas falando? – girou meu corpo bruscamente.
-Que eu não consigo mais te fazer feliz, mas a Daniela quer... – meu coração sangrou – na verdade ela sempre quis.
-Tu só podes estar maluca.
-Não, Léo. É a coisa certa para fazer. Eu te amo e te quero bem.
-Eu sou feliz contigo, Maria Beatriz – chacoalhou-me percebendo meu transe, pois não havia sentimento em nenhuma palavra dita ali. Estava completamente catatônica.
-Eu te amo – desvencilhei meu corpo do seu abraço e saí em direção ao jipe.
-Volta aqui, Bia. Vamos conversar – percebi por sua voz que Léo estava tentando segurar o choro.
-Não me segue, por favor – entrei no carro, porém ele não me deu ouvidos.
-Tu não podes dirigir nesse estado. Deixa eu te levar para casa – tocou meu rosto. – Eu te amo.
-Eu também te amo, Léo. Para sempre - arranquei com o carro dali sem saber por aonde ir.
Havia voltado para Santa Maria em busca da felicidade que teimava em dizer que Maria Elisa tinha tirado de mim. Porém percebi naquele momento, castigando as ruas da minha querida cidade, que ser feliz não dependia do lugar e sim do seu estado de espírito. E o meu era como o da minha mãe. Nunca conseguiria fazer ninguém feliz. Nem João, meus amigos, Léo, ou a mim mesma.
Eles me esqueceriam com facilidade e seguiriam suas vidas.
Parei próximo ao nosso mirante depois de muito pensar no que fazer. Ali seria um bom lugar para morrer. Levaria comigo todos os bons momentos e os deixaria livres de um carma.
Aproximei-me medindo a altura dali de cima, mas quando fiz menção, sem nenhum medo, de pular senti mãos firmes segurarem meus braços.
-Eu lhe dei a vida Maria Beatriz, nunca te deixarias cometer uma loucura dessas!
-Pai?– desabei nos seus braços.
-Vem , meu amor. Vou cuidar de ti, filha.
-Pai – chorei ainda mais. – Foi o Léo, não é?
-Ele te ama, Maria Beatriz. E não te deixaremos sozinha, mesmo que peças.
Depois desse dia não falei mais com ninguém. Mesmo sabendo que nos primeiros dias Léo não saía lá de casa e que João estava cada dia mais cansado. Eu não tinha forças para mais nada. Os médicos intensificaram meus remédios e estava vendo meu pai parar sua vida com medo de me deixar sozinha, sem que eu conseguisse reagir.
-Eu não sei mais o que fazer – o escutei do andar debaixo, coberta por edredom grosso, mesmo estando em janeiro e com o sol a pino do lado de fora da minha janela fechada.
-Podemos subir?
-Claro, meus filhos.
Ah, não!
Eu não queria ver ninguém, porém a porta se abriu antes que pudesse reclamar.
-Agora já chega! – Jessy arrancou o edredom de cima do meu corpo e dei graças a Deus por estar com meu pijama rosa, velho de guerra.
-Pode levantar agora dessa cama que o papo vai ser sério! – Boi sentou ao meu lado.
-E a gente não vai sair daqui enquanto não colocar um pouco de juízo nessa cabeça !– André empoleirou do outro lado da cama. E quando me dei conta, os três estavam me rodeando.
-Só para confirmar. Tu deste de bandeja o Léo para a sonsa da Daniela? Podemos então começar a arrumar o namoro deles? – as palavras de Jessianny entravam como um punhal no meu peito.
-Podemos começar hoje na roda de viola! A guria vai adorar ser convidada para ir e posso também começar a me aproximar para ser amigo dela também.
-E como ela é boazinha, podemos contar tudo e ela não se fará de rogada para dar colo para o peão.
-Verdade, !  Tu podes arranjar aqueles convites – me sentei, olhando assustada para o rosto dos três. – É isso mesmo que tu queres? Que eu me torne a melhor amiga da Daniela, que o Luis Carlos, – vi os olhos de Boi revirar e sorri fracamente, pois estava morrendo de saudades dos meus amigos – perca todo seu tempo irritando ela e que o André se torne o cunhado predileto e único? Se for começaremos a planejar o esquema do cupido hoje mesmo – ela cruzou os braços, olhando feio para minha cara.
-Não. Claro que não! – pulei da cama ficando de frente para eles.
-Então até quando vai se esconder da vida e deixar quem te ama de lado? Marrentinha, – senti meu coração inflar com meu apelido – a gente quer ficar do seu lado, te ajudar – Boi me deu um abraço de urso e molhei toda sua camiseta chorando de soluçar.
- Me desculpem, eu amo vocês!
-Amiga, isso está acabando com a gente! O Léo está trancado naquela cabana, não saí mais para nada. A gente quer estar aqui, ele quer estar aqui.
-Não quero ser um peso para vocês e principalmente para ele. Gente, eu sou maluca – funguei.
-Sabíamos disso desde sempre, não percebeste? A única coisa que conseguiste esconder por mais tempo, foram os remédios – Jessy o cutucou. – Tu não entendes que  trancanda nesse quarto, está matando todo mundo, guria?
-Eu só queria...
-Queria o quê? – os três deram de ombros esperando minha resposta.
-Vocês são meus. Nada de Daniela – gritei. – O Léo...
-O Léo? – Boi me instigou.
-Ele é meu – limpei minhas lágrimas na sua camiseta.
-E está esperando o que para agir, sua maluca? Pare de sujar minha camiseta! – bati no seu ombro.
-Eu sei que sou maluca, Boi, não precisa ficar repetindo. Mas...
-Mas o quê, Maria Beatriz? – Jessy estava ao meu lado.
-Será que ele vai me querer de volta? – os três balançaram a cabeça.
-Isso não merece resposta e sim um soco – Boi ergueu aquela mão enorme em minha direção.
-Para, Boi – minha cunhada tocou meu rosto carinhosamente. – Nós te amamos, amiga. Mas tu precisas te ajudar também.
-Eu quero!  Vocês me ajudam? – os três me abraçaram, fazendo com que uma crise de choro se iniciasse novamente.
-Estamos aqui para isso.
-É... O tratamento de choque funcionou, amor – olhei para André e Jessy sem entender.
-Tu não achou mesmo que jogaríamos o Léo nos braços da boazinha, não é, marrentinha? – olhei feio para os três. – Não adianta, o importante é que deu certo. O que está esperando?
-O que eu faço?
-Hoje tem roda de viola. A gente ia levar a Daniela, mas pode ser tu mesmo – bati forte no ombro de André. – Que direita, tchê! Doeu, Bia...
-É para doer mesmo! – esfreguei minha mão, dolorida também.
-Continuando... – Jessy sentou comigo na cama – hoje tem roda de viola e esses dois – apontou para os garotos com desdém, me fazendo sorrir – vão arrastar Léo para lá, já que  ele não saí mais daquela cabana...
-A nossa cabana – suspirei.
-É – Boi encostou-se à porta.  – O resto é contigo, guria.
-Ok! – um celular começou a berrar dentro do quarto e percebi que André remexeu o bolso pegando o dele e atendendo.
-E aí, cara? – será que ele estava falando com Léo? – Beleza... Separa sim. Ok! Amanhã a gente acerta, até – e desligou.
-O que foi, ?
-Separando os convites para o show da Gurizada amanhã – sorri tendo uma ideia.
-Eu devo um show deles para o Léo – lembrei. – Dé, separa dois para mim.
-É assim que se fala, marrentinha – os três sorriram e me abraçaram de novo.
-Hora das meninas se arrumarem e os meninos vazarem – Jessy os empurrou até a porta. – Bem vinda de volta, cunhadinha.
-Vai ser difícil fazer milagre hoje, amiga – revirei os olhos.
-Pare de bobeira, que tu só estas judiada, - riu – nada como uma maquiagem e depilação, porque pelo que conheço de vocês dois...
-Jessianny! – corei violentamente sendo abanada por ela.
Com um vestido floral, com os cabelos soltos, desci vendo os olhos do pai molhados de emoção por me ver ali, de pé e acima de tudo, viva. João me abraçou, dizendo que sentia muito orgulho de mim, desejando-me sorte e não me dando hora para voltar. Sorri envergonhada e fui com Jessy para a fazenda.
Chegando lá, comecei a tremer como uma vara verde quando nos aproximamos dos arredores da casa grande onde seria a roda de viola.
Léo estava ao fundo da fogueira e agradeci por ninguém da fazenda ter chegado ainda. Apenas Boi, André e seus pais o faziam companhia enquanto arranhava o violão de cabeça baixa. Porém quando prestei atenção na música que cantava meu coração pareceu sair pela boca.
 Era “Nossas Memórias” do Bruno e Marrone. Percebi que seus olhos estavam fechados e cada palavra saída da sua boca contava um pouco do que eu tinha feito com seu coração. E ali vi que não era a única que precisava ser salva.
-... Todas as noites me lembro dos nossos planos. Esqueço que um dia você partiu sem dizer nada. Quero de volta essa felicidade. Estou sonhando, não quero mais acordar pra realidade. Esses meus sonhos vão me iludindo, me tiram a razão. Contos de fadas são só imaginação. Eu quero um dia entender por que a vida só me faz sofrer. Se o meu destino é viver sem você não quero mais viver.
Quando nossos olhos marejados se encontraram, automaticamente seus dedos escorregaram do violão e o vi se levantar vindo na minha direção, deixando minhas pernas ainda mais bambas.
-Tu vieste – tocou meu rosto com tanto carinho que deitei em sua mão.
-Léo...
-Não diz nada, pequena – colocou a ponta do indicador nos meus lábios. – Tu estás aqui, isso que importa – sorri. – Eu te amo.
-Eu não quero que você fique com a Daniela – ele gargalhou me dando um selinho.
-Desconfiei desde o princípio.
-Eu te amo – entrelacei nossas mãos. – Me perdoa?
-Me deixe cuidar de ti?
-Desculpa – solucei e Léo me abraçou, fazendo com que sentisse aquele perfume tão meu novamente. – Eu preciso que tu cuides de mim. Volta para mim, amor?
-Pensei que nunca fosse pedir – ergueu meu rosto, limpando as lágrimas que teimavam em cair. – Eu te amo e só estava esperando teu pedido – beijou levemente meus lábios.
-Eu te amo, Léo – o abracei mais.
-Também te amo, pequena. Vem comigo – me puxou para a caminhonete.
-Para o nosso lugar?
-Sim. Para sempre.
Chegamos na cabana, que estava completamente bagunçada, vendo  Léo  recolher tudo que via pela frente.
-Não precisa arrumar nada, esse lugar é nosso, depois a gente vê isso – peguei suas mãos.
-Nosso... Nós vamos ver juntos? – vi medo nos seus olhos.
-Juntos. Agora só preciso que tu me ames como no dia da praia.
-Não vais fugir de novo?
- Nunca mais. Só preciso que me ames.
-Como se fosse a primeira vez? – desceu delicadamente a alça do meu vestido.
-Sim. Como da primeira vez. Por favor. Quero começar de novo, de novo.
-De novo...  – beijou meu ombro, escorregando meu vestido. – De novo... – deitou-me na cama, como da primeira vez que estivemos ali – De novo... – tirou a camiseta e suspirei o agarrando e vendo como Léo já fazia falta como um membro integrante do meu corpo. – De novo... – me invadiu e ali nada mais precisou ser dito. Eu estava com meu amor e não queria mais morrer.
Havia demorado a perceber, mas era só de Leonardo que eu precisava para voltar a sorrir, para voltar a viver. E graças a Deus, não tinha sido tarde demais. Ele me amava com a mesma intensidade de antes e seriamos muito felizes juntos, de novo.


2 comentários:

  1. No princípio do capítulo fiquei assustada, mas você mostrou que o amor pode vencer! Adorei! Um beijo até sábado :()

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  2. Confesso q to com coração na mão por causa desse show. É o show q morreu um monte de gente. Espero q ninguém próximo morra

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