Capítulo 17 – Salve a minha vida
" Todas as noites me lembro dos nossos planos... Esqueço que um dia você partiu sem dizer nada... Quero de volta essa felicidade... Estou sonhando, não quero mais acordar pra realidade... Esses meus sonhos vão me iludindo, me tiram a razão... Contos de fadas são só imaginação... Eu quero um dia entender por que a vida só me faz sofrer... Se o meu destino é viver sem você não quero mais viver."
Nossas memórias – Bruno e Marrone
Voltamos para Santa Maria dois dias
após do Ano Novo.
Depois que nos apresentamos
novamente, sem medos e receios, curtimos muito a festa que a pousada estava
proporcionando.
Fizemos amor como se fosse a
primeira vez e percebi que ali estávamos nos conhecendo de novo, a cada toque,
a cada beijo,porém, nada tirava a angustia de dentro do meu peito mesmo me
abrindo inteiramente para Léo, não consegui voltar a sorrir.
Contei para João com a ajuda do meu
namorado tudo que havia acontecido na minha vida naqueles últimos cinco anos e
pela primeira vez vi meu pai chorar de soluçar, abraçado comigo em seu colo.
Marcamos também uma consulta com um
psiquiatra, que me encaminhou para terapia e mudou toda minha medicação,
substituindo-a por um tratamento alternativo, como florais e acupuntura.
O mais triste e desesperador foi ver
meu pai brigar com Maria Elisa. Foram inúmeras ligações, com João explodindo
com ela várias vezes.
“Se
depender de mim tu nunca mais colocará os olhos na minha filha.”
“Como
pôde ser tão displicentes com a saúde dela?”
“Tu
não és mãe, Maria Elisa.”
“Como
pude me enganar tanto? Ela é só uma garota querendo nosso carinho.”
“Uma
pessoa egoísta como tu, mereces morrer sozinha. Nunca mais nos procure.”
Aquelas conversas me machucavam
ainda mais, principalmente quando via o arrependimento nos olhos do meu pai por
não ter lutado para ficar comigo e isso,
também era culpa minha.
Me entreguei cada vez mais à dor que
não saia do meu peito. Não tendo mais prazer em sorrir, brincar ou até brigar e
percebi que mesmo vendo Léo todo o dia não conseguia mais deixá-lo feliz.
Passada algumas semanas, fui até a
faculdade entregar um trabalho, depois que tudo que havia lutado para estar
naquele lugar, não poderia dar mais esse desgosto a João.
Chegando lá, encontrei Léo
conversando com Daniela que tinha passado no vestibular e começaria a estudar
ali no próximo semestre e como um estalo pensei que já que não podia mais fazer
meu peão feliz, faria a coisa certa e o
deixaria livre para quem sempre teve essa disposição.
Me aproximei vendo os dois rindo,
porém, quando ele me viu imediatamente seu semblante mudou e correu até mim,
preocupado.
-Pequena, por que não me ligou? Eu
iria te buscar – veio para me dar um selinho, mas virei o rosto.
-Não precisa, ainda sei dirigir –
tentei sorrir. – Oi, Daniela.
-Oi, Bia. Tudo bem?
-Sim. Nós podemos conversar? – olhei
para Léo.
-Claro. A gente se vê, Dani.
-Ok. Tchau.
Já perto da caminhonete nenhuma
palavra minha precisou ser dita para que ele se desculpasse.
-Não é nada disso que tu estás
pensando – sorri acariciando seu rosto e isso o deixou ressabiado.
-Ela te fez sorrir, – toquei as
covinhas da sua bochecha – há quanto tempo tu não rias, amor?
-Vai passar e tu vais melhorar -
repetiu meu gesto.
-Acho que não. A impressão que tenho
é que quebrei em mil pedaços e não tem mais jeito – me afastei ficando de
costas.
-O que está acontecendo, pequena?
-Nada. Só não posso te dar mais a
alegria que tínhamos até nas nossas brigas. Não consigo trazer a sua
marrentinha de volta, Léo.
-A gente vai conseguir, – aproximou-se
abraçando minha cintura – juntos.
-Vocês formam um belo par.
-Do que estas falando? – girou meu
corpo bruscamente.
-Que eu não consigo mais te fazer
feliz, mas a Daniela quer... – meu coração sangrou – na verdade ela sempre
quis.
-Tu só podes estar maluca.
-Não, Léo. É a coisa certa para
fazer. Eu te amo e te quero bem.
-Eu sou feliz contigo, Maria Beatriz
– chacoalhou-me percebendo meu transe, pois não havia sentimento em nenhuma
palavra dita ali. Estava completamente catatônica.
-Eu te amo – desvencilhei meu corpo
do seu abraço e saí em direção ao jipe.
-Volta aqui, Bia. Vamos conversar –
percebi por sua voz que Léo estava tentando segurar o choro.
-Não me segue, por favor – entrei no
carro, porém ele não me deu ouvidos.
-Tu não podes dirigir nesse estado.
Deixa eu te levar para casa – tocou meu rosto. – Eu te amo.
-Eu também te amo, Léo. Para sempre
- arranquei com o carro dali sem saber por aonde ir.
Havia voltado para Santa Maria em
busca da felicidade que teimava em dizer que Maria Elisa tinha tirado de mim.
Porém percebi naquele momento, castigando as ruas da minha querida cidade, que
ser feliz não dependia do lugar e sim do seu estado de espírito. E o meu era
como o da minha mãe. Nunca conseguiria fazer ninguém feliz. Nem João, meus
amigos, Léo, ou a mim mesma.
Eles me esqueceriam com facilidade e
seguiriam suas vidas.
Parei próximo ao nosso mirante
depois de muito pensar no que fazer. Ali seria um bom lugar para morrer.
Levaria comigo todos os bons momentos e os deixaria livres de um carma.
Aproximei-me medindo a altura dali
de cima, mas quando fiz menção, sem nenhum medo, de pular senti mãos firmes
segurarem meus braços.
-Eu lhe dei a vida Maria Beatriz,
nunca te deixarias cometer uma loucura dessas!
-Pai?– desabei nos seus braços.
-Vem , meu amor. Vou cuidar de ti,
filha.
-Pai – chorei ainda mais. – Foi o
Léo, não é?
-Ele te ama, Maria Beatriz. E não te
deixaremos sozinha, mesmo que peças.
Depois desse dia não falei mais com
ninguém. Mesmo sabendo que nos primeiros dias Léo não saía lá de casa e que
João estava cada dia mais cansado. Eu não tinha forças para mais nada. Os
médicos intensificaram meus remédios e estava vendo meu pai parar sua vida com
medo de me deixar sozinha, sem que eu conseguisse reagir.
-Eu não sei mais o que fazer – o
escutei do andar debaixo, coberta por edredom grosso, mesmo estando em janeiro
e com o sol a pino do lado de fora da minha janela fechada.
-Podemos subir?
-Claro, meus filhos.
Ah, não!
Eu não queria ver ninguém, porém a
porta se abriu antes que pudesse reclamar.
-Agora já chega! – Jessy arrancou o
edredom de cima do meu corpo e dei graças a Deus por estar com meu pijama rosa,
velho de guerra.
-Pode levantar agora dessa cama que
o papo vai ser sério! – Boi sentou ao meu lado.
-E a gente não vai sair daqui
enquanto não colocar um pouco de juízo nessa cabeça !– André empoleirou do
outro lado da cama. E quando me dei conta, os três estavam me rodeando.
-Só para confirmar. Tu deste de
bandeja o Léo para a sonsa da Daniela? Podemos então começar a arrumar o namoro
deles? – as palavras de Jessianny entravam como um punhal no meu peito.
-Podemos começar hoje na roda de
viola! A guria vai adorar ser convidada para ir e posso também começar a me aproximar
para ser amigo dela também.
-E como ela é boazinha, podemos
contar tudo e ela não se fará de rogada para dar colo para o peão.
-Verdade, mô! Tu podes arranjar
aqueles convites – me sentei, olhando assustada para o rosto dos três. – É isso
mesmo que tu queres? Que eu me torne a melhor amiga da Daniela, que o Luis
Carlos, – vi os olhos de Boi revirar e sorri fracamente, pois estava morrendo
de saudades dos meus amigos – perca todo seu tempo irritando ela e que o André
se torne o cunhado predileto e único? Se for começaremos a planejar o esquema
do cupido hoje mesmo – ela cruzou os braços, olhando feio para minha cara.
-Não. Claro que não! – pulei da cama
ficando de frente para eles.
-Então até quando vai se esconder da
vida e deixar quem te ama de lado? Marrentinha, – senti meu coração inflar com
meu apelido – a gente quer ficar do seu lado, te ajudar – Boi me deu um abraço
de urso e molhei toda sua camiseta chorando de soluçar.
- Me desculpem, eu amo vocês!
-Amiga, isso está acabando com a
gente! O Léo está trancado naquela cabana, não saí mais para nada. A gente quer
estar aqui, ele quer estar aqui.
-Não quero ser um peso para vocês e
principalmente para ele. Gente, eu sou maluca – funguei.
-Sabíamos disso desde sempre, não
percebeste? A única coisa que conseguiste esconder por mais tempo, foram os
remédios – Jessy o cutucou. – Tu não entendes que trancanda nesse quarto, está matando todo
mundo, guria?
-Eu só queria...
-Queria o quê? – os três deram de
ombros esperando minha resposta.
-Vocês são meus. Nada de Daniela –
gritei. – O Léo...
-O Léo? – Boi me instigou.
-Ele é meu – limpei minhas lágrimas
na sua camiseta.
-E está esperando o que para agir,
sua maluca? Pare de sujar minha camiseta! – bati no seu ombro.
-Eu sei que sou maluca, Boi, não
precisa ficar repetindo. Mas...
-Mas o quê, Maria Beatriz? – Jessy
estava ao meu lado.
-Será que ele vai me querer de
volta? – os três balançaram a cabeça.
-Isso não merece resposta e sim um
soco – Boi ergueu aquela mão enorme em minha direção.
-Para, Boi – minha cunhada tocou meu
rosto carinhosamente. – Nós te amamos, amiga. Mas tu precisas te ajudar também.
-Eu quero! Vocês me ajudam? – os três me abraçaram,
fazendo com que uma crise de choro se iniciasse novamente.
-Estamos aqui para isso.
-É... O tratamento de choque
funcionou, amor – olhei para André e Jessy sem entender.
-Tu não achou mesmo que jogaríamos o
Léo nos braços da boazinha, não é, marrentinha? – olhei feio para os três. –
Não adianta, o importante é que deu certo. O que está esperando?
-O que eu faço?
-Hoje tem roda de viola. A gente ia
levar a Daniela, mas pode ser tu mesmo – bati forte no ombro de André. – Que
direita, tchê! Doeu, Bia...
-É para doer mesmo! – esfreguei minha
mão, dolorida também.
-Continuando... – Jessy sentou
comigo na cama – hoje tem roda de viola e esses dois – apontou para os garotos
com desdém, me fazendo sorrir – vão arrastar Léo para lá, já que ele não saí mais daquela cabana...
-A nossa cabana – suspirei.
-É – Boi encostou-se à porta. – O resto é contigo, guria.
-Ok! – um celular começou a berrar
dentro do quarto e percebi que André remexeu o bolso pegando o dele e
atendendo.
-E aí, cara? – será que ele estava
falando com Léo? – Beleza... Separa sim. Ok! Amanhã a gente acerta, até – e
desligou.
-O que foi, mô?
-Separando os convites para o show
da Gurizada amanhã – sorri tendo uma ideia.
-Eu devo um show deles para o Léo –
lembrei. – Dé, separa dois para mim.
-É assim que se fala, marrentinha –
os três sorriram e me abraçaram de novo.
-Hora das meninas se arrumarem e os
meninos vazarem – Jessy os empurrou até a porta. – Bem vinda de volta,
cunhadinha.
-Vai ser difícil fazer milagre hoje,
amiga – revirei os olhos.
-Pare de bobeira, que tu só estas judiada,
- riu – nada como uma maquiagem e depilação, porque pelo que conheço de vocês
dois...
-Jessianny! – corei violentamente
sendo abanada por ela.
Com um vestido floral, com os
cabelos soltos, desci vendo os olhos do pai molhados de emoção por me ver ali,
de pé e acima de tudo, viva. João me abraçou, dizendo que sentia muito orgulho
de mim, desejando-me sorte e não me dando hora para voltar. Sorri envergonhada
e fui com Jessy para a fazenda.
Chegando lá, comecei a tremer como
uma vara verde quando nos aproximamos dos arredores da casa grande onde seria a
roda de viola.
Léo estava ao fundo da fogueira e
agradeci por ninguém da fazenda ter chegado ainda. Apenas Boi, André e seus
pais o faziam companhia enquanto arranhava o violão de cabeça baixa. Porém
quando prestei atenção na música que cantava meu coração pareceu sair pela
boca.
Era “Nossas
Memórias” do Bruno e Marrone. Percebi que seus olhos estavam fechados e
cada palavra saída da sua boca contava um pouco do que eu tinha feito com seu
coração. E ali vi que não era a única que precisava ser salva.
-...
Todas as noites me lembro dos nossos planos. Esqueço que um dia você partiu sem
dizer nada. Quero de volta essa felicidade. Estou sonhando, não quero mais
acordar pra realidade. Esses meus sonhos vão me iludindo, me tiram a razão.
Contos de fadas são só imaginação. Eu quero um dia entender por que a vida só
me faz sofrer. Se o meu destino é viver sem você não quero mais viver.
Quando
nossos olhos marejados se encontraram, automaticamente seus dedos escorregaram
do violão e o vi se levantar vindo na minha direção, deixando minhas pernas
ainda mais bambas.
-Tu vieste
– tocou meu rosto com tanto carinho que deitei em sua mão.
-Léo...
-Não diz
nada, pequena – colocou a ponta do indicador nos meus lábios. – Tu estás aqui,
isso que importa – sorri. – Eu te amo.
-Eu não
quero que você fique com a Daniela – ele gargalhou me dando um selinho.
-Desconfiei
desde o princípio.
-Eu te amo
– entrelacei nossas mãos. – Me perdoa?
-Me deixe
cuidar de ti?
-Desculpa
– solucei e Léo me abraçou, fazendo com que sentisse aquele perfume tão meu
novamente. – Eu preciso que tu cuides de mim. Volta para mim, amor?
-Pensei
que nunca fosse pedir – ergueu meu rosto, limpando as lágrimas que teimavam em
cair. – Eu te amo e só estava esperando teu pedido – beijou levemente meus
lábios.
-Eu te
amo, Léo – o abracei mais.
-Também te
amo, pequena. Vem comigo – me puxou para a caminhonete.
-Para o
nosso lugar?
-Sim. Para
sempre.
Chegamos
na cabana, que estava completamente bagunçada, vendo Léo
recolher tudo que via pela frente.
-Não
precisa arrumar nada, esse lugar é nosso, depois a gente vê isso – peguei suas
mãos.
-Nosso...
Nós vamos ver juntos? – vi medo nos seus olhos.
-Juntos.
Agora só preciso que tu me ames como no dia da praia.
-Não vais
fugir de novo?
- Nunca
mais. Só preciso que me ames.
-Como se
fosse a primeira vez? – desceu delicadamente a alça do meu vestido.
-Sim. Como
da primeira vez. Por favor. Quero começar de novo, de novo.
-De
novo... – beijou meu ombro, escorregando
meu vestido. – De novo... – deitou-me na cama, como da primeira vez que
estivemos ali – De novo... – tirou a camiseta e suspirei o agarrando e vendo
como Léo já fazia falta como um membro integrante do meu corpo. – De novo... –
me invadiu e ali nada mais precisou ser dito. Eu estava com meu amor e não
queria mais morrer.
Havia
demorado a perceber, mas era só de Leonardo que eu precisava para voltar a
sorrir, para voltar a viver. E graças a Deus, não tinha sido tarde demais. Ele
me amava com a mesma intensidade de antes e seriamos muito felizes juntos, de
novo.
No princípio do capítulo fiquei assustada, mas você mostrou que o amor pode vencer! Adorei! Um beijo até sábado :()
ResponderExcluirConfesso q to com coração na mão por causa desse show. É o show q morreu um monte de gente. Espero q ninguém próximo morra
ResponderExcluir