Capítulo 3 – O primeiro dia de aula
"Conto Até Dez, imaginando abrir
os olhos e te ver aqui...
Amanheceu
e quer saber, ainda não dormi...
Seu medo
insiste em afastar meu sentimento... Eu conto até Dez,
pedindo a Deus pra amenizar o sofrimento...
Pra
que você entenda o quanto eu te quero... "
Conto
Até Dez (part. George Henrique e Rodrigo ) Jorge e Mateus
Acordei naquela manhã de segunda
feira com o celular despertando às sete horas. Me espreguicei olhando para a
janela, vendo como o dia estava bonito.
Criei
coragem, levantei e quando fui até a sacada do meu quarto que me lembrei como a
vista de casa era bonita.
Morávamos
perto de um morro e o nascer e pôr do sol tornava aquele lugar ainda mais
especial.
Aquela
paisagem merecia uma foto.
Foto?
De repente,
as fotos instantâneas do dia da quermesse me vieram à cabeça. O Léo havia
ficado com elas.
Sorri,
pensando que teria que pedi-las para ele na faculdade.
Tomei meu
banho, me arrumando para meu primeiro dia de aula. E como não sabia como seria
recebida na Federal, resolvi prender o cabelo em um rabo de cavalo, vestir meu
jeans favorito com uma regata básica e antes de colocar meus óculos de grau
quadrados passei uma maquiagem leve.
Eu estava
apresentável.
Desci,
encontrando João já à minha espera na cozinha, e depois de tomar café ele me
levou para a faculdade, mesmo eu me sentindo uma criança de dez anos. Precisava
dar um jeito nessas caronas. Não queria atrapalhar a vida do meu pai com isso.
Assim que
botei os pés na universidade, vi a movimentação dos veteranos pintando os
bichos, exigindo pedágio e zoando. Como
meu curso estava começando esse ano, não teria desses problemas, eu acho.
-Bia! –
olhei para trás e vi Jessy se aproximando. – Bom dia! – sorrimos.
-Bom
dia! Que bom que você chegou, estava com
medo de atravessar esse campo minado sozinha – apontei para a bagunça na nossa
frente.
-Eu também
estava, mas como nosso curso está começando agora, pensei que não teríamos
grandes problemas. Na verdade quem vai ter problemas são eles – ela mostrou
alguns meninos sendo pintados por Léo e sorri. – Os meninos da agronomia e da
veterinária sofrem nas mãos desses ogros – balançou a cabeça.
-Coitados –
rimos.
-Como foi
teu final de semana, quer dizer seu domingo?
-Foi muito
bom, aproveitei para curtir um pouco meu pai, fazer supermercado e almoçar em
uma churrascaria típica gaúcha – lambi os lábios.
-Sentiu
falta daqui, não é?
-Muita
falta, Jessy. Mas e o seu domingo, como foi? – perguntei curiosa, sabendo que
também assim descobriria como havia sido o de Léo.
-Fomos para
Agudo. O pai e o Léo tinham que entregar um contrato lá e aproveitamos para
almoçar na cidade.
-Que legal
- então ele não estava na cidade. Me animei, enquanto via a bagunça se
aproximar de nós duas. – É... Ainda bem
que não temos nada a ver com aquilo – apontei para os meninos pintados.
-Será? –
virei na direção que Jessy olhava fixamente. – Nem vem, Léo. A gente não tem
nada a ver com as suas putarias.
-Olha a
boca, menina! – ele sorriu e olhou para mim. – Bom dia, guria.
-Bom dia –
tentei não transparecer minha cara de boba.
-Vim
acompanhar vocês até a sala de aula.
-Não
precisa, a gente pode ir sozinha.
-Será,
Jessiany? – olhamos para o lado e já estávamos cercadas por alguns meninos. –
Com essas duas vocês estão proibidos de mexer, ok! – Léo foi duro, como se
desse uma ordem para eles, o chefe da quadrilha. – Vamos? – assentimos e
começamos a atravessar o pátio da faculdade. – Tudo bem contigo? – sussurrou no
meu ouvido, tocando minha cintura.
-Tudo –
sorrimos um para o outro.
-Tu
deverias ter vergonha de fazer isso com esses pobres coitados, Leonardo – Jessy
nos tirou da nossa bolha. – Lembra como foi que chegou em casa depois do teu
trote?
-Faz parte,
maninha. E por isso mesmo que faço hoje – Léo gargalhou.
-Tu estás
me devendo uma coisa? – disse enquanto me divertia com a briga dos irmãos.
-E o que
seria, marrentinha? – seu olhar não me enganava. Leonardo sabia que estava com
as fotos e no meu íntimo havia feito de propósito.
-Eu quero
as minhas fotos, quer dizer, nossas.
-Tudo bem,
quer agora? – ia tirar a carteira do bolso quando foi chamado.
Hum! Ele
estava carregando nossas fotos na carteira?
-Léo, o que
a gente faz com esses aqui? Levamos para o pedágio? – um moço loiro disse,
carregando dois pobres meninos.
-Vamos
levá-los para o centro, Dé. E, marrentinha, – voltou o olhar para mim – nossa
conversa continua mais tarde, estão entregues – beijou o meu e o rosto da irmã
e saiu com os meninos. Foi aí que percebi que Jessy estava suspirando, mas
resolvi ficar quieta. Ainda não éramos tão íntimas.
E meu
primeiro dia de aula foi como imaginava. Muitas apresentações, por sermos a
primeira turma de psicologia. A maioria eram meninas, com duas exceções. Um
menino tipicamente gay, muito divertido e o outro mais homem que ainda não
tinha identificado sua preferência sexual.
Eu e Jessy
nos divertimos muito, fofocando a aula inteira, além de conversarmos sobre
nossas vidas.
Foi ali que
descobri muitas coisas sobre minha nova amiga, sua família e principalmente seu
irmão. E decidimos juntas, que procuraríamos um estágio, mesmo que fosse pela
universidade, precocemente já fazíamos planos para abrirmos nosso consultório
juntas.
Eu havia
gostado muito dela e tinha certeza que essa amizade seria para toda a vida.
Liguei para
João perto da hora do almoço, pois Jessy também estava a pé, já que Léo havia
desaparecido com os meninos, supostamente indo para o centro da cidade.
O pai deu
uma carona para ela, deixando-a na entrada da fazenda, que não ficava muito
longe e seguimos para casa. Quando chegamos, reparei que tinha um jipe parado
perto do nosso portão.
-De quem
será esse jipe na nossa garagem?
-Teu
-Oi? Como
assim? - gritei pulando da Bandeirante
e correndo em direção ao Willis.
- O jipe é
teu Bia.
Sempre fui
louca por jipes, como João, e ele não deixava nem eu relar no seu, o que me
deixava irritada às vezes, mas agora eu teria o meu.
-Mas, pai.
Deve ter custado uma fortuna.
-Não vamos
falar disso, filha. Tu és meu único bem precioso. Se não fizer para ti vou
fazer para quem? – o beijei emocionada e entrei no carro.
-É lindo. E
tu sabes que está realizando meu sonho, não é? – estava chorando.
-Não quero
vê-la chorando – tocou meu rosto carinhosamente. – Vá dar uma volta – ele sorriu da minha
animação fuçando em tudo.
-Tu não
vens?
-Confio em
ti, guria, mas cuidado. Preciso voltar para a delegacia. Tenho um depoimento
marcado agora.
-Obrigada,
pai. Nossa!– beijei seu rosto, ainda sentada no banco do motorista – Eu te amo!
-Também te
amo, filha. Agora vá passear um pouco. Só te deixo sair, porque fui eu mesmo
que te ensinei a gostar e a dirigir essas coisas - sorrimos cúmplices.
-Mesmo que
morresse de medo que eu ralasse sua pintura original e intacta – revirei os
olhos.
-Exatamente.
Vá dar uma volta, e volte antes de anoitecer, não quero te ver zanzando por aí
à noite com ele.
-Pode
deixar, Delegado João – bati continência lembrando de Léo. E já sabia para onde
ir.
Queria
mostrar meu presente aos meus novos amigos. A Jessy iria enlouquecer, já o
Léo...
Me despedi
de João e rumei para a Fazenda Palmital, quando cheguei lá dona Luíza veio me receber sorridente, já chamando
Jessy dentro da Casa Grande.
-Que
surpresa boa, minha querida. Como estás? – ela me abraçou carinhosamente assim
que desci do carro e percebi ali como sentia falta daquele carinho maternal.
-Estou bem,
dona Luíza. Queria mostrar para vocês meu presente – apontei para o jipe.
-Não
acredito, é teu? – Jessy veio correndo e me abraçou. – Parabéns, amiga.
-É lindo
mesmo, filha – as duas olhavam admiradas para o jipe. – João disse que tu
sempre foste apaixonada por esses carros, como ele – sorri feliz.
-E verdade
– comecei disfarçadamente a procurar Léo por todos os lugares, mas acho que ele
não estava por ali.
-Vamos
entrar, acabei de ajudar a Zefa a bater um bolo de fubá cremoso.
-O meu
preferido – suspirei.
-Que ótimo,
então eu estava adivinhando. Venha, meu amor. Vamos entrar.
Fui
guinchada pelas duas e percebi como eram bonitas. Não tinham trejeitos de
pessoas da roça. Jessy era loirinha, delicada, muito bem vestida e cuidada,
como sua mãe, com seus quarentas e poucos anos, mantinha as unhas feitas,
cabelos pintados em um marrom acobreado. E foi sendo apresentada a Zefa, a
ajudante da cozinha, que percebi a grande diferença entre os donos da fazenda e
os empregados. Já que ela era uma senhora de mais ou menos cinqüenta anos,
porém bem mais acabada. Dava para ver que era nascida e criada ali.
Já a
família de Léo não. Mesmo sentindo que eles amavam aquele lugar.
Divertimos-nos
a tarde inteira em nosso café da tarde, repleto de geléias, pães, meu bolo
predileto, café, leite tirado da vaca quentinho e manteiga feita na fazenda. Se
não tomasse cuidado engordaria uns dez quilos.
Não tive
nem tempo de perguntar dos homens da família, já que nossa conversa engatava em
uma fofoca atrás da outra. Na verdade estava sendo colocada à par de tudo,
palavras de Jessianny.
Perto das
cinco horas, ainda na mesa, vimos Seu Flávio chegar irritado e como não tinha
me visto ainda, soltou os cachorros de cabeça baixa, tirando o barro da bota.
-Eu ainda
mato aquele moleque, onde se meteu teu filho, Luíza? – foi aí que ergueu os
olhos e me viu. – Desculpa, não sabia que estava aqui, filha. Boa tarde.
-Boa tarde
– estava sem graças, principalmente por saber que ele estava louco da vida com
o Léo.
-O que
aconteceu, Bem? – Luíza perguntou
carinhosa.
-A mimosa
está parindo e não consigo encontrar o Leonardo para me ajudar. Acho que vamos
ter que chamar um veterinário dessa vez. Aquele moleque sabe como fazer, mas
ele sumiu. E agora a coitada da vaca está berrando de dor.
Lembrei de
um congresso que fui de psicologia em São Paulo uma vez, que tratava de dores
de animais. Será que conseguiria amenizar a dor da Mimosa até encontrarem Léo?
-Desculpa
me intrometer, mas eu participei de um congresso há um tempo, que falava que a
psicologia pode ajudar nessas horas acalmando o animal. Será que posso tentar
até vocês encontrarem o Leonardo ou o veterinário? – vi os olhos do Seu Flávio
brilhar e então ele sorriu. Acho que gostou da ideia.
-Tu não te
importas, filha? Ela está no curral.
-Claro que
não, se eu puder ajudar.
-Já ouvi
falar disso também em uma das minhas pesquisas, – Jessy se animou, pulando da
cadeira – eu vou ajudar.
-Então
vamos. E tu, Bem, tenta falar com teu
filho.
-Pode
deixar. E boa sorte, meninas – acenamos.
Fomos os
três correndo para o curral e quando chegamos lá me deu uma pena de ver aquele
bichinho largado no chão e sentindo dor, mesmo que fosse natural para qualquer
fêmea parir. Mas pelo que estava vendo, o caso da Mimosa era bem mais grave.
Cheguei bem
perto do rosto da bichinha e comecei a colocar em prática o que havia
aprendido.
Longe das
patas, olhei direto nos olhos dela e massageei suas têmporas, descendo para o
focinho e sem tirar os olhos dos dela, cantei.
Ela foi se
acalmando, enquanto os funcionários da fazenda, mesmo olhando-me de rabo de
olho, continuavam a tentar fazer o bezerrinho nascer.
Os gritos
foram amenizados se não fosse pelo susto que levamos vendo uma caminhonete
parar com tudo em frente ao curral.
-O que
significa isso? Saia todo mundo! Vocês estão cantando para a vaca? Quem teve
essa brilhante idéia? Ela quer parir, é só enfiar a mão dentro e tirar o
bezerro – Leonardo espantou todos, mas quando me viu perdeu a cor.
-Fui eu que
tive a brilhante idéia, acalmando a vaca, enquanto tu não chegavas – levantei
encarando-o. – Mas já estou de saída. Espero ter ajudado, Seu Flávio - sorri
para o pai do brutamontes.
-É claro
que ajudou, filha. Só peço desculpas por esse moleque sem educação – balancei a
cabeça sem coragem de olhar para ninguém. – Não foi essa a educação que te dei,
Leonardo. Peça desculpas para a Beatriz agora. Pois se tivesse atendido a droga
do celular não precisaria ter trazido ela para cá. – ouvi um silêncio. – AGORA,
LEONARDO.
-Eu...
Estava na aula – o machão tinha perdido a fala?
-Aula? Sei! Tu estavas na gandaia ao invés de
cumprir suas obrigações.
-Fica na
sua, Jessiany.
-Eu já vou
indo. Obrigada pelo café, estava uma delícia, Jessy. A gente se vê amanhã – sai
daquele lugar querendo morrer. Como poderia ter me enganado tanto com uma
pessoa? Leonardo era xucro e medíocre. Bem diferente da sua família.
-Bia –
olhei para trás e droga, já estava chorando. – Eu...
-Tchau,
Leonardo. Vá fazer seu trabalho – virei às costas e fui em direção a casa
grande onde o jipe estava estacionado.
Não me
despedi de Luíza, como ela me pediu que a chamasse no meio da nossa conversa da
tarde, indo para casa chorando.
Estava
decepcionada.
Sabia que
Leonardo não era o rei das gentilezas, mas o que ele havia feito me fez
enxergar o moleque arrogante e ignorante que era.
Tentei
enxugar as lágrimas quando entrei em casa, já que João estava na sala
assistindo jornal.
-Tudo bem?
-Tudo. Só
preciso de um banho, já desço para preparar o jantar.
-Onde tu
foste? – virou, olhando para minhas roupas.
-Na fazenda
do Seu Flávio – já estava no meio da escada. – Volto já.
Entrei no
meu quarto arrancando toda a minha roupa, chorando de raiva e quando já estava debaixo
do chuveiro, esfreguei-me tentando tirar toda a prova de que um dia poderia ter
existido aquele grosso na minha vida.
Já mais
calma, desci e preparei um arroz, carne de panela e salada.
Jantamos em
silêncio e subi, dizendo que precisava arrumar minhas coisas para a aula do dia
seguinte, mas na verdade estava com tão chateada, que não queria que João me
enchesse de perguntas sobre minha tarde, muito menos sobre aquele alienado.
Antes de
dormir minhas lágrimas já haviam secado. E se no dia anterior dormi pensando
estar apaixonada por Leonardo Ávila, naquele momento eu o queria morto e
enterrado.
Amei, adore! Obrigada por esse capítulo mais cedo! Esse Leo ui! Beijinhos apaixonada pela esta história; )
ResponderExcluirNossa Fe chorei junto com a Bia, esse Léo viu mais eu sei que no próximo capítulo eles vão o Léo vai pedir perdão a Bia e ela como já ama ele vai perdoa ele,já estou ansiosíssima para o próximo capítulo, estou amando cada vez mais esse casal marrento bjs
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