quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Léo e Bia... Capítulo 5


Capítulo 5 – Amigos
                       "Esse amor entrou no coração... Agora diz o que é que a gente faz... Pode dizer sim ou dizer não... Ser só seu amigo não dá mais..."
Amigo Apaixonado – Vitor e Léo
           
Meu celular tocava tão longe que parecia estar em outro mundo.
            Mas de repente sua campainha começou a ficar bem perto e estridente, o que me fez pular da cama.
            -Droga! Perdi a hora! – esfreguei o rosto. – Não, hoje é domingo – pensei jogando-me na cama novamente. Mas antes que pudesse arremessar o celular na parede, percebi que era alguém ligando, então olhei para o visor.
            -Jessy? Aconteceu alguma coisa?
            -Oi, amiga. Te acordei? Desculpa.
            -Não... Quer dizer, que horas são? – estava confusa.
            -Onze. Por isso pensei que já estivesse acordada.
            -Não, dormi demais – mexi nos cabelos. – Aconteceu alguma coisa? – perguntei de novo. – Não vai me dizer que o Leonardo brigou contigo? – levantei a cabeça, irritada.
            -Muito pelo contrário – ela sorriu. – Você deveria ser beatificada.
            -Por quê? O que eu fiz? – fiquei curiosa.
            -Depois que tu foste embora e que ele te levou até o carro, depois, é claro, de terem dançado e conversado bastante na sacada...
            -Espera ai. Tu estavas tentando conquistar o André ou bisbilhotando o que fiz durante a festa? – a danada gargalhou.
            -Sério, amiga. Não sei o que estava mais interessante.
            -Jessianny – ralhei. O que a fez sorrir ainda mais.
            -Mas voltando... O Léo chegou até mim e o André depois que te acompanhou até o carro, dizendo que a festa já havia acabado e que a gente iria embora. Pensei, é claro, que ele brigaria. Só que no caminho, viemos conversando, foi então que ele disse que pegaria mais leve, pedindo até desculpas.  Tu sabes o que significa isso para o Leonardo, Bia?
            Eu acho que sabia e estava bem feliz por ela, por mim também.
            -Fico feliz por ti, amiga. Viu só, ele só precisava de um empurrãozinho.
            -Errado – ela riu.
            -Como?
            -O Leonardo precisa de ti, mulher, para domá-lo.
            -A gente não vai começar, não é?
            -Não, até porque a mãe está me chamando para ajudar no almoço. Mais tarde eu te ligo e a gente conversa mais sobre isso – bufei.
            -Eu te espero, então. Beijos.
            -Beijos, amiga. E... Obrigada.
            -Tu sabes que não tem o que agradecer – sorrimos, desligando.
            Depois de tudo que tinha ouvido o que me restava fazer era me jogar na cama novamente e pensar no que havia acontecido de um dia para o outro.
            Léo acatou o que eu disse e ainda foi embora logo depois, dizendo que a festa para ele também tinha terminado.
            Sorri com uma animação sem igual, pulei da cama, beijando meu urso e nossa foto, que havia deixado na cabeceira da cama, resolvendo que era a hora de procurar meu pai e resolver o que faríamos para o almoço.
            Tomei um banho rápido, colocando uma camiseta branca com uma bermudinha jeans, deixando os cabelos molhados, secarem soltos apenas com o vento. Peguei meus óculos inseparáveis, o arrumando no rosto e desci animada de dois em dois degraus, já sentindo o cheiro maravilhoso do churrasco.
            Encontrei João e o Padre Olavo conversando animadamente nos fundos de casa.
            -Bom dia! Que cheiro bom – falei animada, chegando perto da churrasqueira.
            -Boa tarde, para ser sincero. Não é, Maria Beatriz? – João pareceu estar bravo, mas beijou meu rosto. – Como foi sua noite?
            -Foi ótima, me diverti muito. Sua benção, Padre – beijei a mão do melhor amigo e conselheiro de meu pai.
            -Bom dia, minha filha. Deus lhe abençoe. Você está muito bem.
            -Estou feliz, Padre – sorri beliscando um medalhão. – E essa carne, hum – lambi os lábios.
            -Minha especialidade – João gabou-se, fazendo com que sorríssemos.
            -Eu sei, por isso adoro – beijei sua bochecha. – Quer ajuda?
            -Não, querida. Está tudo sob controle. Apenas sente-se e coma.
            -É isso que vou fazer – sentei-me ao lado do Padre Olavo, que me passou o molho de alho e a maionese que eram meus pratos prediletos, junto com o churrasco de João.
            -E então, o Léo estava lá? – Pronto. Estava demorando ao pai começar me cutucar. E sabia muito bem onde ele queria chegar.
            -Ele é um menino de ouro. Trabalhador, estudioso...
            -Até o senhor, Padre Olavo, virando santo casamenteiro?
            -Olhe o respeito com o Padre Olavo, Maria Beatriz – João ralhou bravo.
            -Perdão, Padre – ele riu.
            -Não tem que pedir perdão, minha filha. Como se eu não tivesse convivido com você na idade da Maria Beatriz, filho.
            -Viu só – brinquei e voltei para minha comida. – E sim, o Léo estava lá.
            -Que bom, fico feliz que tenham se tornado amigos.
            -Vamos comer em paz, Delegado?
            -Vamos, Maria Beatriz – ele levantou as mãos se rendendo.
            Divertimo-nos muito enquanto almoçávamos. Mas quando ouvi o som de um carro conhecido, vindo com o barulho de um rádio alto, gelei.
            O Léo estava ali.
            -Boa tarde, pessoal – ele entrou no quintal com aquele sorriso que me desmancharia em qualquer lugar. Até na frente do meu pai e do padre que me batizou.
            -Tu não morres mais, filho – João lhe estendeu a mão.
            -Graças a Deus – Léo bateu na mesa fazendo graça. – Mas estavam falando mal de mim? – nossos olhos se cruzaram e sorri involuntariamente, levantando e indo a sua direção.
            -Não, filho. A menina Beatriz estava nos contando como foi a noite de vocês.
            -Eu e a Bia nos divertimos muito, não é? – ele abraçou meu ombro e senti olhares curiosos nossa direção.
            -É.  Tu queres comer alguma coisa? – tentei desviar o assunto e principalmente os olhares e fui para perto da churrasqueira.
            -Não, obrigado. Comi lá em casa. Só vim porque você me prometeu uma volta no seu jipe.
            -Eu não prometi não – fiz birra o fazendo sorrir.
            -Claro que prometeu. Quando te levei até o carro.
            -Ta, ta. Vamos – peguei sua mão o levando dali, antes que me entregasse por completo. – Já voltamos.
            -Fiquem à vontade, filhos – e pelo sorriso do meu pai e do Padre Olavo já estaria com o casamento consumado.
            -Vou pegar a chave e minha bolsa.
            -Ok! Te espero no jipe – respirei fundo vendo minha maior tentação se afastar.
            Subi escovando os dentes e pegando minhas coisas. Quando sai na garagem sorri do encantamento do Léo pelo carro.
            -Pega. – joguei as chaves. - Vamos dar uma volta, peão – Léo gargalhou e a pegou no ar, abrindo primeiro a porta do passageiro para mim. – Obrigada, que gentileza – sorri o provocando.
            -Gentileza é o meu nome, pequena – sentou ao meu lado, ligando o carro. – Eu disse que iria mostrar para ti que poderia ser legal também.
            -Eu sei – foi só o que consegui dizer com nossos rostos tão próximos e tentando ainda respirar depois do pronunciamento do meu novo apelido.
            -Vou te mostrar os points de Santa Maria.
            -Eu conheço Santa Maria, Leonardo – ele sorriu enquanto fuçava no rádio que tinha vindo no jipe.
            -Precisa colocar um rádio mais potente aqui – ignorou minha birra.
            -Não preciso não. Esse está bom – ele gargalhou.
            -Marrentinha, você é complicada, hein – dei de ombros, olhando para a janela. – Tu és sempre assim, ou só comigo?
            -Só contigo – não resisti sorrindo também. – Mas falando sério. Não quero um trio elétrico como o seu no meu jipe. Deixo todo o sucesso para você.
            -Eu faço sucesso? Não sabia.
            -Sabia sim.
            -Tudo bem. Mas vou arrumar os alto falantes, ok?
            -Ok! – me rendi. - E ai quais são os points da cidade?
            -Pensei que já soubesse – foi sua vez de me provocar.
            -Eu sei – dei de ombros – só quero saber o que mudou nesses cinco anos.
            -Sei – Léo, sem tirar o sorriso do rosto, acelerou o tanto que o jipe permitia e começou mostrando-me os bares. – Aqui é a Kiss, – senti um arrepio estranho ao passar pela boate mais famosa da cidade – ela é bem legal. Um dia desses a gente vem – nossa ele estava mudando mesmo. Falando no plural, algo que ele detestava até ontem. Sim, eu poderia ser beatificada. Sorri me lembrando da Jessy. Mas também isso me fazia pensar que em relação ao Leonardo estava bem complicado chegar a alguma conclusão. Poderia ser medo de me entregar e sofrer. Ou até estar entendendo tudo errado.
            -Bia... Bia – Léo cutucou minha perna.
            -Oi?
            -Estava no mundo da lua?
            -Só pensando.
            -No quê?
            -Curioso – ri batendo em sua perna.
            -Só preocupado – senti a sinceridade em sua voz. – Você gosta mesmo daqui, não é?
            -Santa Maria é minha casa, Léo.
            -E São Paulo?
            -Minha tortura, quer dizer... – senti meus batimentos acelerarem, começando a ficar agitada e Léo percebeu.
            -Ei, está tudo bem. Que tal um sorvete? – sorri, acalmando-me naquela imensidão verde que olhava para mim.
            -Ótima ideia, São João?
            -Existem coisas que nunca mudam.
            -Verdade.
            E graças a Deus o assunto de São Paulo foi esquecido.
...
            -Mas me conte... Como são as coisas na fazenda?
            -Cansativas – ele riu e pagou no caixa, comigo implicando, é claro. – Estamos ali de domingo a domingo sem descanso. Mas eu não tenho do que reclamar, Bia. Aquilo é a minha vida e herdarei aquela fazenda com muito orgulho – sorri da sua determinação, ainda tão jovem. – Você me entende, não é?
            -É claro que entendo. Eu vejo tanto amor quando você fala da fazenda, que isso motiva qualquer um a seguir a profissão que ama, pois sabe que será feliz para o resto da vida.
            -Tu também gostas da sua – ele apenas confirmou já me conhecendo um pouco.
            -Gosto, como já te disse quero poder ajudar muito as outras pessoas, como já fui ajudada – Léo me olhou confuso. –Deixa para lá. E você,acorda todos os dias com as galinhas? – brinquei, tentando desviar do assunto.
            -Às vezes vou direto – ele sorriu, mas senti que não esqueceria o assunto tão fácil.
            -Logo imaginei – prestei atenção no seu pote e vi que só havia sorvete de limão. – Limão? – fiz uma careta.
            -Qual é o problema? Gosto de tudo que vem dele. Torta, mouse, sorvete, caipirinha – dando mais uma colherada no meu pote e vendo ele me acompanhar, pensei... Não sou de limão, mas sou tão azeda quanto. Sorri balançando a cabeça. – Só tu mesmo.
            -O quê? Peguei um pouco de tudo, como uma pessoa normal.
            -Está dizendo que não sou normal, Maria Beatriz? – começou a cutucar meu sorvete.
            -Para! Tu tens o seu.
            -Até que não é tão ruim – Léo lambeu os lábios, olhando para a pracinha na frente da sorveteria.
            -Ainda é o point da galera? – perguntei sabendo que durante o final de semana aquela praça vivia cheia de gente.
            -Com certeza – ele sorriu.
            -Viu só, tem coisas que nunca mudam.
            -Verdade – sorrimos um para o outro, ainda de olho na praça.
            -Quer ir lá? Eu volto sozinha. Carona não vai faltar – torci os dedos para ele não aceitar. Não queria me despedir ainda e muito menos ser trocada pela praça da bagunça.
            -Está louca, guria. Estou contigo. E se te levar lá os caras vão ficar te azarando.
            -Me azarando? – sorri, respirando aliviada.
            -Vai me dizer que ainda não acredita quando te digo isso?
            -Se não tivesse me falado ontem, não teria reparado.
            -Sei – desdenhou. – Terminou? – assenti – Quero te levar em um lugar perto da fazenda onde só conseguimos chegar de caminhonete, jipe ou a cavalo.
            -É um teste para o meu humilde veículo?
            -É – disse simplesmente.

           
O lugar era lindo.
            Um mirante que possuía uma das vistas mais lindas de Santa Maria.
            -Isso fica nas suas terras?
            -Fica.
            -Que privilegio – saímos do carro e senti a brisa gelada do final da tarde. – Foi uma tarde gostosa.
            -Tenho que concordar – Léo se aproximou por trás, fazendo que instintivamente encostasse a cabeça no seu peito.
            -Vai anoitecer – tentei me desvencilhar dos braços que já estavam na minha cintura.
            -Passou rápido – Léo cheirou meu cabelo e aquilo era tão bom.
            -Verdade – Observei um boi e uma vaca, digamos assim, na intimidade e resolvi brincar, tentando amenizar a tensão que havia se formado no ar. – Acho que logo tu terás mais um parto para fazer – apontei.
            -Vou te ligar, você sabe disso, não é? – virei para ele, zombando.
            -Sei.
            -É verdade, Maria Beatriz. Não é só o garanhão ali que terá trabalho – bati no seu ombro, corando.
            -Vamos voltar para casa, vai. – puxei sua mão, mas Léo não parava de olhar e sorrir para, agora, a consumação do ato. – Pare de ser indiscreto, Leonardo. Os deixe a vontade. Vamos – o puxei novamente.
            -Esse é dos meus. Olha a pegada dele, Bia?
            -Não vou nem comentar – revirei os olhos novamente, com ele gargalhando e me seguindo.
            -Vamos que nosso dia vai ser longo amanhã.
            -Vai? – fomos para o carro de mãos dadas, mas ele não me respondeu, rindo até chegar em casa.
            -Amigos? – Léo me estendeu a mão assim que estacionou atrás de sua caminhonete.
            -Amigos – apertei-a, rindo.
            -Consegui voltar a ser o cara da quermesse – respirei fundo.
            -Você sabe que sim, porém, – pausei, tocando seu peito – não deixe o cara do curral tomar conta disso – referi-se ao seu coração.
            -Você terá paciência comigo se...
            -Se tu tiveres a humildade de se desculpar e tentar melhorar, sim.
            -Eu vou... Por ti – Léo olhou-me intensamente.
            -Tem que ser por você, guri.
            -Mas você pode me ajudar – sorriu timidamente.
            -Façamos um trato – pisquei para ele. – Se eu vir que está ficando mais chato que o normal te darei uns safanões – bati na sua cabeça.
            -Isso doe.
            -O que arde cura – ri. – Agora vou entrar – desconectei nossas mãos que nem sabia que estavam entrelaçadas. - Até amanhã, Léo.
            -Até amanhã, marrentinha – ele aproximou-se, mas fui salva por João que levava Padre Olavo até a porta.
            -Boa noite, meus filhos. Já estou atrasado para a missa das sete.
            -Boa noite, Padre – falamos e descemos do jipe.
            -Vou levar o padre e já volto, ok? Foi tudo bem no passeio? Gostou do possante, Léo? – João estava todo orgulhoso e era visível não ser apenas por conta do jipe.
            -Muito bom, Delegado.
            -Conto os detalhes da compra depois. Volto já.
            -Até mais, meus filhos.
            -Até, Padre – falamos juntos novamente e rimos, vendo os dois entrarem na Bandeirante.
            -Vou indo, então. A gente se vê amanhã – ele beijou meu rosto tão próximo da boca que fez meu coração acelerar.
            -Tchau – entrei em casa, ouvindo a caminhonete sair com o som alto, típico de Leonardo. Me peguei suspirando com nossa tarde, por isso resolvi arrumar a bagunça do churrasco, assim mantinha minhas mãos ocupadas, dando espaço para a mente vagar.
            E mais uma vez pensei em como Léo tinha o dom de virar minha vida de ponta cabeça.
            Amigos?
            Sim, mas éramos bem mais que isso. Sentia a tensão no ar toda a vez que nos encontrávamos, principalmente depois daquela tarde.
            Deixaria as coisas fluírem naturalmente, sem grandes preocupações. Por enquanto éramos amigos e amigos se divertem juntos, certo?
            Sorri assim que João entrou me enchendo de perguntas sobre o passeio da tarde e eu apenas simplifiquei, dizendo que havia sido muito bom, que tínhamos tomado sorvete, mas ocultei o mirante, que seria muito romântico para mente casamenteira do meu pai.
            Me despedi dele, subindo depois de mentir que estava cansada e que precisava arrumar as coisas para a faculdade no dia seguinte. E antes de dormir, ainda falei com Jessy e com... Léo, que roubou o celular da irmã conversando comigo até eu dormir feliz e agarrada com Bartolomeu, olhando nossa foto na cabeceira da cama.
           

             
           

           

           


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