"Esse amor entrou
no coração... Agora diz o que é que a gente faz... Pode dizer sim ou dizer
não... Ser só seu amigo não dá mais..."
Amigo
Apaixonado – Vitor e Léo
Meu celular tocava tão longe que
parecia estar em outro mundo.
Mas de
repente sua campainha começou a ficar bem perto e estridente, o que me fez
pular da cama.
-Droga!
Perdi a hora! – esfreguei o rosto. – Não, hoje é domingo – pensei jogando-me na
cama novamente. Mas antes que pudesse arremessar o celular na parede, percebi
que era alguém ligando, então olhei para o visor.
-Jessy?
Aconteceu alguma coisa?
-Oi, amiga.
Te acordei? Desculpa.
-Não...
Quer dizer, que horas são? – estava confusa.
-Onze. Por isso
pensei que já estivesse acordada.
-Não, dormi
demais – mexi nos cabelos. – Aconteceu alguma coisa? – perguntei de novo. – Não
vai me dizer que o Leonardo brigou contigo? – levantei a cabeça, irritada.
-Muito pelo
contrário – ela sorriu. – Você deveria ser beatificada.
-Por quê? O
que eu fiz? – fiquei curiosa.
-Depois que
tu foste embora e que ele te levou até o carro, depois, é claro, de terem
dançado e conversado bastante na sacada...
-Espera ai.
Tu estavas tentando conquistar o André ou bisbilhotando o que fiz durante a
festa? – a danada gargalhou.
-Sério,
amiga. Não sei o que estava mais interessante.
-Jessianny
– ralhei. O que a fez sorrir ainda mais.
-Mas
voltando... O Léo chegou até mim e o André depois que te acompanhou até o
carro, dizendo que a festa já havia acabado e que a gente iria embora. Pensei,
é claro, que ele brigaria. Só que no caminho, viemos conversando, foi então que
ele disse que pegaria mais leve, pedindo até desculpas. Tu sabes o que significa isso para o
Leonardo, Bia?
Eu acho que
sabia e estava bem feliz por ela, por mim também.
-Fico feliz
por ti, amiga. Viu só, ele só precisava de um empurrãozinho.
-Errado –
ela riu.
-Como?
-O Leonardo
precisa de ti, mulher, para domá-lo.
-A gente
não vai começar, não é?
-Não, até
porque a mãe está me chamando para ajudar no almoço. Mais tarde eu te ligo e a
gente conversa mais sobre isso – bufei.
-Eu te
espero, então. Beijos.
-Beijos,
amiga. E... Obrigada.
-Tu sabes
que não tem o que agradecer – sorrimos, desligando.
Depois de
tudo que tinha ouvido o que me restava fazer era me jogar na cama novamente e
pensar no que havia acontecido de um dia para o outro.
Léo acatou
o que eu disse e ainda foi embora logo depois, dizendo que a festa para ele
também tinha terminado.
Sorri com
uma animação sem igual, pulei da cama, beijando meu urso e nossa foto, que
havia deixado na cabeceira da cama, resolvendo que era a hora de procurar meu
pai e resolver o que faríamos para o almoço.
Tomei um
banho rápido, colocando uma camiseta branca com uma bermudinha jeans, deixando
os cabelos molhados, secarem soltos apenas com o vento. Peguei meus óculos
inseparáveis, o arrumando no rosto e desci animada de dois em dois degraus, já
sentindo o cheiro maravilhoso do churrasco.
Encontrei
João e o Padre Olavo conversando animadamente nos fundos de casa.
-Bom dia!
Que cheiro bom – falei animada, chegando perto da churrasqueira.
-Boa tarde,
para ser sincero. Não é, Maria Beatriz? – João pareceu estar bravo, mas beijou
meu rosto. – Como foi sua noite?
-Foi ótima,
me diverti muito. Sua benção, Padre – beijei a mão do melhor amigo e
conselheiro de meu pai.
-Bom dia,
minha filha. Deus lhe abençoe. Você está muito bem.
-Estou
feliz, Padre – sorri beliscando um medalhão. – E essa carne, hum – lambi os lábios.
-Minha
especialidade – João gabou-se, fazendo com que sorríssemos.
-Eu sei,
por isso adoro – beijei sua bochecha. – Quer ajuda?
-Não,
querida. Está tudo sob controle. Apenas sente-se e coma.
-É isso que
vou fazer – sentei-me ao lado do Padre Olavo, que me passou o molho de alho e a
maionese que eram meus pratos prediletos, junto com o churrasco de João.
-E então, o
Léo estava lá? – Pronto. Estava demorando ao pai começar me cutucar. E sabia
muito bem onde ele queria chegar.
-Ele é um
menino de ouro. Trabalhador, estudioso...
-Até o
senhor, Padre Olavo, virando santo casamenteiro?
-Olhe o
respeito com o Padre Olavo, Maria Beatriz – João ralhou bravo.
-Perdão,
Padre – ele riu.
-Não tem
que pedir perdão, minha filha. Como se eu não tivesse convivido com você na
idade da Maria Beatriz, filho.
-Viu só –
brinquei e voltei para minha comida. – E sim, o Léo estava lá.
-Que bom,
fico feliz que tenham se tornado amigos.
-Vamos
comer em paz, Delegado?
-Vamos,
Maria Beatriz – ele levantou as mãos se rendendo.
Divertimo-nos
muito enquanto almoçávamos. Mas quando ouvi o som de um carro conhecido, vindo
com o barulho de um rádio alto, gelei.
O Léo
estava ali.
-Boa tarde,
pessoal – ele entrou no quintal com aquele sorriso que me desmancharia em
qualquer lugar. Até na frente do meu pai e do padre que me batizou.
-Tu não
morres mais, filho – João lhe estendeu a mão.
-Graças a
Deus – Léo bateu na mesa fazendo graça. – Mas estavam falando mal de mim? –
nossos olhos se cruzaram e sorri involuntariamente, levantando e indo a sua
direção.
-Não,
filho. A menina Beatriz estava nos contando como foi a noite de vocês.
-Eu e a Bia
nos divertimos muito, não é? – ele abraçou meu ombro e senti olhares curiosos nossa
direção.
-É. Tu queres comer alguma coisa? – tentei
desviar o assunto e principalmente os olhares e fui para perto da
churrasqueira.
-Não,
obrigado. Comi lá em casa. Só vim porque você me prometeu uma volta no seu
jipe.
-Eu não
prometi não – fiz birra o fazendo sorrir.
-Claro que
prometeu. Quando te levei até o carro.
-Ta, ta. Vamos – peguei sua mão o levando
dali, antes que me entregasse por completo. – Já voltamos.
-Fiquem à
vontade, filhos – e pelo sorriso do meu pai e do Padre Olavo já estaria com o
casamento consumado.
-Vou pegar
a chave e minha bolsa.
-Ok! Te
espero no jipe – respirei fundo vendo minha maior tentação se afastar.
Subi
escovando os dentes e pegando minhas coisas. Quando sai na garagem sorri do
encantamento do Léo pelo carro.
-Pega. –
joguei as chaves. - Vamos dar uma volta, peão – Léo gargalhou e a pegou no ar,
abrindo primeiro a porta do passageiro para mim. – Obrigada, que gentileza –
sorri o provocando.
-Gentileza
é o meu nome, pequena – sentou ao meu lado, ligando o carro. – Eu disse que
iria mostrar para ti que poderia ser legal também.
-Eu sei –
foi só o que consegui dizer com nossos rostos tão próximos e tentando ainda
respirar depois do pronunciamento do meu novo apelido.
-Vou te mostrar
os points de Santa Maria.
-Eu conheço
Santa Maria, Leonardo – ele sorriu enquanto fuçava no rádio que tinha vindo no
jipe.
-Precisa
colocar um rádio mais potente aqui – ignorou minha birra.
-Não
preciso não. Esse está bom – ele gargalhou.
-Marrentinha,
você é complicada, hein – dei de
ombros, olhando para a janela. – Tu és sempre assim, ou só comigo?
-Só contigo
– não resisti sorrindo também. – Mas falando sério. Não quero um trio elétrico
como o seu no meu jipe. Deixo todo o sucesso para você.
-Eu faço
sucesso? Não sabia.
-Sabia sim.
-Tudo bem.
Mas vou arrumar os alto falantes, ok?
-Ok! – me
rendi. - E ai quais são os points da
cidade?
-Pensei que
já soubesse – foi sua vez de me provocar.
-Eu sei –
dei de ombros – só quero saber o que mudou nesses cinco anos.
-Sei – Léo,
sem tirar o sorriso do rosto, acelerou o tanto que o jipe permitia e começou
mostrando-me os bares. – Aqui é a Kiss, –
senti um arrepio estranho ao passar pela boate mais famosa da cidade – ela
é bem legal. Um dia desses a gente vem – nossa ele estava mudando mesmo.
Falando no plural, algo que ele detestava até ontem. Sim, eu poderia ser
beatificada. Sorri me lembrando da Jessy. Mas também isso me fazia pensar que
em relação ao Leonardo estava bem complicado chegar a alguma conclusão. Poderia
ser medo de me entregar e sofrer. Ou até estar entendendo tudo errado.
-Bia... Bia
– Léo cutucou minha perna.
-Oi?
-Estava no
mundo da lua?
-Só
pensando.
-No quê?
-Curioso –
ri batendo em sua perna.
-Só
preocupado – senti a sinceridade em sua voz. – Você gosta mesmo daqui, não é?
-Santa
Maria é minha casa, Léo.
-E São
Paulo?
-Minha
tortura, quer dizer... – senti meus batimentos acelerarem, começando a ficar
agitada e Léo percebeu.
-Ei, está tudo bem. Que tal um sorvete? –
sorri, acalmando-me naquela imensidão verde que olhava para mim.
-Ótima
ideia, São João?
-Existem
coisas que nunca mudam.
-Verdade.
E graças a
Deus o assunto de São Paulo foi esquecido.
...
-Mas me
conte... Como são as coisas na fazenda?
-Cansativas
– ele riu e pagou no caixa, comigo implicando, é claro. – Estamos ali de
domingo a domingo sem descanso. Mas eu não tenho do que reclamar, Bia. Aquilo é
a minha vida e herdarei aquela fazenda com muito orgulho – sorri da sua
determinação, ainda tão jovem. – Você me entende, não é?
-É claro
que entendo. Eu vejo tanto amor quando você fala da fazenda, que isso motiva
qualquer um a seguir a profissão que ama, pois sabe que será feliz para o resto
da vida.
-Tu também gostas
da sua – ele apenas confirmou já me conhecendo um pouco.
-Gosto,
como já te disse quero poder ajudar muito as outras pessoas, como já fui
ajudada – Léo me olhou confuso. –Deixa para lá. E você,acorda todos os dias com
as galinhas? – brinquei, tentando desviar do assunto.
-Às vezes
vou direto – ele sorriu, mas senti que não esqueceria o assunto tão fácil.
-Logo
imaginei – prestei atenção no seu pote e vi que só havia sorvete de limão. –
Limão? – fiz uma careta.
-Qual é o
problema? Gosto de tudo que vem dele. Torta, mouse, sorvete, caipirinha – dando
mais uma colherada no meu pote e vendo ele me acompanhar, pensei... Não sou de limão, mas sou tão azeda quanto.
Sorri balançando a cabeça. – Só tu mesmo.
-O quê?
Peguei um pouco de tudo, como uma pessoa normal.
-Está
dizendo que não sou normal, Maria Beatriz? – começou a cutucar meu sorvete.
-Para! Tu
tens o seu.
-Até que
não é tão ruim – Léo lambeu os lábios, olhando para a pracinha na frente da
sorveteria.
-Ainda é o point da galera? – perguntei sabendo que
durante o final de semana aquela praça vivia cheia de gente.
-Com
certeza – ele sorriu.
-Viu só,
tem coisas que nunca mudam.
-Verdade –
sorrimos um para o outro, ainda de olho na praça.
-Quer ir
lá? Eu volto sozinha. Carona não vai faltar – torci os dedos para ele não
aceitar. Não queria me despedir ainda e muito menos ser trocada pela praça da
bagunça.
-Está
louca, guria. Estou contigo. E se te levar lá os caras vão ficar te azarando.
-Me
azarando? – sorri, respirando aliviada.
-Vai me dizer
que ainda não acredita quando te digo isso?
-Se não
tivesse me falado ontem, não teria reparado.
-Sei –
desdenhou. – Terminou? – assenti – Quero te levar em um lugar perto da fazenda
onde só conseguimos chegar de caminhonete, jipe ou a cavalo.
-É um teste
para o meu humilde veículo?
O lugar era lindo.
Um mirante
que possuía uma das vistas mais lindas de Santa Maria.
-Isso fica
nas suas terras?
-Fica.
-Que
privilegio – saímos do carro e senti a brisa gelada do final da tarde. – Foi
uma tarde gostosa.
-Tenho que
concordar – Léo se aproximou por trás, fazendo que instintivamente encostasse a
cabeça no seu peito.
-Vai
anoitecer – tentei me desvencilhar dos braços que já estavam na minha cintura.
-Passou
rápido – Léo cheirou meu cabelo e aquilo era tão bom.
-Verdade –
Observei um boi e uma vaca, digamos assim, na intimidade e resolvi brincar,
tentando amenizar a tensão que havia se formado no ar. – Acho que logo tu terás
mais um parto para fazer – apontei.
-Vou te
ligar, você sabe disso, não é? – virei para ele, zombando.
-Sei.
-É verdade,
Maria Beatriz. Não é só o garanhão ali que terá trabalho – bati no seu ombro,
corando.
-Vamos
voltar para casa, vai. – puxei sua mão, mas Léo não parava de olhar e sorrir
para, agora, a consumação do ato. – Pare de ser indiscreto, Leonardo. Os deixe
a vontade. Vamos – o puxei novamente.
-Esse é dos
meus. Olha a pegada dele, Bia?
-Não vou
nem comentar – revirei os olhos novamente, com ele gargalhando e me seguindo.
-Vamos que
nosso dia vai ser longo amanhã.
-Vai? –
fomos para o carro de mãos dadas, mas ele não me respondeu, rindo até chegar em
casa.
-Amigos? –
Léo me estendeu a mão assim que estacionou atrás de sua caminhonete.
-Amigos –
apertei-a, rindo.
-Consegui
voltar a ser o cara da quermesse – respirei fundo.
-Você sabe
que sim, porém, – pausei, tocando seu peito – não deixe o cara do curral tomar
conta disso – referi-se ao seu coração.
-Você terá
paciência comigo se...
-Se tu
tiveres a humildade de se desculpar e tentar melhorar, sim.
-Eu vou...
Por ti – Léo olhou-me intensamente.
-Tem que
ser por você, guri.
-Mas você
pode me ajudar – sorriu timidamente.
-Façamos um
trato – pisquei para ele. – Se eu vir que está ficando mais chato que o normal
te darei uns safanões – bati na sua cabeça.
-Isso doe.
-O que arde
cura – ri. – Agora vou entrar – desconectei nossas mãos que nem sabia que
estavam entrelaçadas. - Até amanhã, Léo.
-Até
amanhã, marrentinha – ele aproximou-se, mas fui salva por João que levava Padre
Olavo até a porta.
-Boa noite,
meus filhos. Já estou atrasado para a missa das sete.
-Boa noite,
Padre – falamos e descemos do jipe.
-Vou levar
o padre e já volto, ok? Foi tudo bem no passeio? Gostou do possante, Léo? –
João estava todo orgulhoso e era visível não ser apenas por conta do jipe.
-Muito bom,
Delegado.
-Conto os
detalhes da compra depois. Volto já.
-Até mais,
meus filhos.
-Até, Padre
– falamos juntos novamente e rimos, vendo os dois entrarem na Bandeirante.
-Vou indo,
então. A gente se vê amanhã – ele beijou meu rosto tão próximo da boca que fez
meu coração acelerar.
-Tchau –
entrei em casa, ouvindo a caminhonete sair com o som alto, típico de Leonardo.
Me peguei suspirando com nossa tarde, por isso resolvi arrumar a bagunça do
churrasco, assim mantinha minhas mãos ocupadas, dando espaço para a mente
vagar.
E mais uma
vez pensei em como Léo tinha o dom de virar minha vida de ponta cabeça.
Amigos?
Sim, mas
éramos bem mais que isso. Sentia a tensão no ar toda a vez que nos
encontrávamos, principalmente depois daquela tarde.
Deixaria as
coisas fluírem naturalmente, sem grandes preocupações. Por enquanto éramos
amigos e amigos se divertem juntos, certo?
Sorri assim
que João entrou me enchendo de perguntas sobre o passeio da tarde e eu apenas
simplifiquei, dizendo que havia sido muito bom, que tínhamos tomado sorvete,
mas ocultei o mirante, que seria muito romântico para mente casamenteira do meu
pai.
Me despedi
dele, subindo depois de mentir que estava cansada e que precisava arrumar as
coisas para a faculdade no dia seguinte. E antes de dormir, ainda falei com
Jessy e com... Léo, que roubou o celular da irmã conversando comigo até eu
dormir feliz e agarrada com Bartolomeu, olhando nossa foto na cabeceira da
cama.
Tão lindo esses dois juntos!! Amando muito essa história Fe.
ResponderExcluir