Capítulo 11 – Ele não me quer
"Você
só tem... Que acendê-la... E deixá-la brilhar... Domine a noite... Como no dia
da Independência... Porque, baby, você é um fogo de artifício... Vá em frente,
mostre o que você vale... Faça-os sair "Ah, ah, ah!"... Enquanto você
é atirado pelo céu "Ah, ah!"
Katy
Perry - Firework
Acordei
naquela quinta feira radiante. E nem o frio que já começava a mostrar as caras
em Santa Maria me faria desanimar. Pulei da cama ao som alto de Katy Perry,
indo direto para debaixo do chuveiro.
Lá eu
cantei, sorri e gritei.
Sim, eu
estava feliz.
Desliguei o
chuveiro, me enrolando na toalha,mas na hora que abri a porta, que dava de
frente para minha cama, quase morri de susto.
-Quer me
matar do coração? – Léo estava esparramado na cama todo faceiro.
-Digo o
mesmo para ti – me olhou de cima embaixo. – De toalha é sacrilégio, Maria
Beatriz – esfregou o rosto.
-Se quiser
eu tiro – fiz menção de arrancar a toalha, me aproximando dele.
-Não! – Léo
gritou colocando as mãos em frente ao corpo.
-Como não?
– perguntei retrocedendo e amarrando ainda mais a tolha no meu corpo. – Tu não
me queres, é isso?
-Bia...
-Claro que
não! – balancei a cabeça, sentindo as lágrimas brotando nos meus olhos. – Tu és
como todos esses homens por aí, que querem a namorada para pedir a mão para o
pai e as piranhas para comer na rua. Tudo bem, eu já entendi.
-Mas que
porra é essa que estás falando? Não sei como era sua vida em São Paulo, mas
aqui as coisas são diferentes, pelo menos eu sou diferente.
-O que está
querendo dizer com isso, que eu era uma piranha em São Paulo? Tu não me
conheces, Leonardo. Eu sou... Deixa para lá.
- És
virgem, Maria Beatriz? – vi seus olhos brilharem.
-E
inexperiente. Agora saí do meu quarto e vá atrás de quem possa te dar prazer.
Porque essa aqui, só serve para ser levada à quermesse.
-Vamos
conversar – ele tentou se aproximar.
-Saí do meu
quarto, Leonardo – apontei para a porta.
-Não tem
diálogo contigo mesmo.
-Olhe quem
fala – senti que as lágrimas já começavam dar o ar da graça e o vi sair pela
janela.
-Estava
testando o seu esquema – naquela hora queria que o chão se abrisse e me
engolisse para sempre. Ele tinha escalado minha janela.
-Léo – o
chamei mais já era tarde. Meu namorado já tinha sumido.
Desabei na cama sem coragem para
mais nada.
Droga!
Eu havia estragado tudo de novo.
Será que o Léo teria paciência comigo? Mas ele não me quis...
-Por que, Léo? - chorei ainda mais –
Tu dizias que me amava – abracei Bartolomeu e esqueci de todo o resto.
Não sei por quanto tempo fiquei ali
enrolada na toalha, até ouvir a campainha tocar desesperadamente. Será que o
Léo tinha voltado? Não, ele não tinha. Pois o conhecendo já razoavelmente bem,
só tocaria a campainha novamente quando João estivesse em casa.
Arrastei-me da cama, vestindo a
primeira coisa que vi na minha frente, meu jeans de ontem com uma blusa de lã
por conta do frio e desci para abrir a porta, antes que ela fosse arrombada.
-Posso saber por que a senhorita não
foi para a aula e meu irmão está cantando pneu por toda Santa Maria? –
Jessianny entrou como um tiro na sala.
-Ele não me quer, Jessy – desabei
nos braços da minha melhor amiga.
-Como assim, estás louca, guria? O
Léo não fala em outra coisa a não ser de ti, desde que se conheceram no aeroporto.
Vamos nos acalmar? – colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. – Vocês
brigaram?
-Ele não me quis, quer dizer... –
fiquei morrendo de vergonha, mas resolvi contar tudo o que havia acontecido no
meu quarto um pouco antes dela chegar.
-É por isso? – Jessy deu de ombros.
– Bia, olha para mim, – segurou meu rosto – meu irmão te ama e tenho certeza
que ele te quer tanto quanto tu o que queres. Mas o Léo é assim – sorriu –
mesmo não parecendo, o guri é romântico, amiga. O que foi aquele pedido de
namoro e o jantar com o João ontem me diz? Nem o André é tão romântico assim.
Eu o conheço desde sempre e te garanto que nunca te deixaria para ir atrás de
algum rabo de saia. Seu namorado é fiel, Maria Beatriz – se eu já queria ser
engolida por um buraco antes, naquele momento queria morrer e ser enterrada.
-Mas eu sou virgem, Fabi.
-E eu sou o quê? – levantou as mãos.
– Agora sim que o Léo vai querer que seja especial.
-Eu sempre sonhei com esse dia. Me
entregar para o homem que realmente amo – funguei – e quando o vi ali na minha
cama, achei que...
-Diga isso a ele, amiga.
-Ele não vai querer me ouvir. O Léo
é rabugento – ela gargalhou, jogando-se no sofá.
-Tu tens razão, o guri não é flor
que se cheire, mas está louco para ver a marrentinha dele dar o braço a torcer
– bateu na minha perna. – O que está esperando para ir atrás do seu namorado,
cunhada?
-Eu vou – levantei meio desnorteada.
– Mas onde posso encontrá-lo? Tu disseste que ele estava descontando na pobre
da caminhonete – ela riu.
-Eu sei onde ele pode estar.
Estacionei o jipe na frente do
curral, ao lado da sua caminhonete, mas hesitei em entrar, pois da última vez
que tínhamos nos visto lá dentro as coisas não tinham sido agradáveis. Mas
respirando fundo entrei de mansinho, escutando sua voz serena.
-Ei, mimosa.
Por que as gurias têm que ser tão complicadas?
-Porque temos medo de perder nossos
homens – Léo me olhou triste e aquilo me corroeu mais do que soda caustica. –
Nós somos chatas e complicadas mesmo, peão. Mas eu te amo.
-Como é difícil te entender.
-Eu sei, às vezes também não consigo
– sorri fracamente, tentando controlar o choro. – Me perdoa, amor. Eu tentei
precipitar as coisas e entendi tudo errado. – Léo saiu de perto da Mimosa,
sentando em um banco esquecido ali e eu o acompanhei em silêncio. Já tinha
falado demais, quase estragando tudo.
-Tu achas mesmo que não te quero,
Maria Beatriz? – não consegui responder, já que as teimosas lágrimas voltaram a
cair. – Eu te quero e muito, guria. Naquele dia da Kiss tu quase me mataste – balançou a cabeça, frustrado. – Mas
quero que seja bonito e não uma rapidinha antes da aula com medo do João
voltar.
-Eu sei – limpei o nariz, ainda
olhando para baixo, envergonhada. – Léo. Eu não sou qualquer uma. Nunca fiz
isso, queria que fosse com alguém que eu amasse para sempre.
-Nunca pensei nada errado de ti,
pequena – ele me puxou para seu colo e ali eu estava em casa. Deitei a cabeça
no seu peito sentindo seu cheiro gostoso, que era uma mistura de amaciante e
colônia.
-Tenho a impressão que todo mundo
pensa que sou como minha mãe, Léo. Mas não sou. Eu só quis isso aqui a minha
vida inteira – aconcheguei-me ainda, mas no seu colo. – Alguém para me amar e
me fazer feliz. E ela e nem ninguém nunca me entenderam.
-Como é a tua relação com sua mãe?
-Péssima – falei abafado, escondendo
o rosto no vão do seu pescoço. – Maria Elisa queria que eu fosse como ela,
depois que abandou João. Liberta. Cada dia com um namorado diferente. Dizia que
na minha idade eu tinha que curtir a vida. Mas eu nunca fui como ela.
-E tu falavas isso para ela? – Léo,
de mansinho, tentava conversar sobre minha mãe, acariciando minhas costas.
-É muito difícil conversar com ela,
Léo. Sempre batemos de frente e acabamos brigando.
-Mas ela é tua mãe, pequena.
-E a gente estava falando de nós,
lembra? – ele riu, beijando meus cabelos.
-Nós dois não temos mais jeito,
marrentinha, – olhei assustada para ele, que ria – Não vou largar nunca mais de
ti, guria.
-Mas...
-Fiquei puto, Maria Beatriz. Porra!
Não é tão fácil como imagina escalar aquela janela – sorri, o encarando.
-Mas tu vais fazer de novo, não vai?
-Se não me atacar de toalha de novo,
porque a carne aqui é fraca – piscou para mim.
-Aí, que vergonha – devo ter ficado
da cor de um pimentão.
-Estou brincando, pequena. É claro
que vou escalar aquela janela de novo, não quero ver tu agarrada só naquele
urso. Oh, bicho sortudo da porra –
gargalhei.
-Foi tu que me destes, amor.
-Mas é ele que dorme contigo e não
eu. Preciso inverter isso.
-Então preciso te contar uma coisa.
-O quê? – perguntou curioso.
-Eu dei o nome para ele – sorri
faceira.
-E aí?
-Bartolomeu – Léo me olhou confuso e
gargalhou.
-Bartolomeu – repetiu o nome do
pobre causador do seu ciúme. – É, pequena, tu és bem criativa – me deu o beijo
que estava esperando desde quando escalou minha janela, atacando minha boca
ferozmente, fazendo os dois gemerem quando as línguas se tocaram. – Deixe fazer
com que nossa primeira noite seja uma
das melhores da nossa vida? – disse com nossas testas coladas.
-Deixo. É claro que deixo – o beijei
novamente e nossa briga foi esquecida naquele momento. Nada me separaria do meu
peão, nunca.
-Maria Beatriz, me faz um
favor? Deixa a janela aberta para
facilitar minha vida também.
-Pode deixar.
Ficamos ali
no curral o resto da manhã, apenas nos curtindo. Aproveitei para mostrar a nova
foto do perfil do meu facebook, que
era a que tínhamos tirado juntos na noite passada, fazendo com que ele mudasse
a sua também. Almoçamos com seus pais na fazenda, com dona Luíza não cabendo em
si de tanta felicidade e seu Flávio, com um sorriso de orelha a orelha. Lembrei
que Jessy e André deveriam também estar aproveitando a trégua de Léo naquela
hora namorando a vontade.
Até que nossa briguinha tinha
servido para alguma coisa. Mas, tínhamos que assistir aula, pelo menos à tarde,
então fomos juntos para a faculdade, cada um no seu carro, mas sempre grudados,
mesmo que pelo olhar no retrovisor.
No final da
tarde, cheguei em casa exausta, ainda tendo um trabalho para entregar no dia
seguinte, roupa para colocar na máquina e o jantar para fazer.
Falei para
Léo que ligaria quando terminasse tudo, mas acho que não haveria escalada
naquele dia, na verdade os dois estavam mortos.
Brigar
cansava também.
Estava
terminando de colocar a última remessa de roupa na máquina quando o telefone de
casa começou tocar desesperado. Corri até a sala e atendi sem olhar para o
visor.
-Alô.
-Só assim
para conseguir falar com você. Tudo bem, filha? Lembra que ainda tem mãe? – o
Léo só podia ter um radar, pois me fez lembrar mais cedo, que sim, eu tinha uma
mãe.
-Oi.
-É só isso
que tem para me dizer depois de quase um mês, Maria Beatriz?
-O que quer
saber, mãe? Como está a faculdade, coisa que nunca teve interesse de me
perguntar quando morávamos juntas, ou como esta a pior cidade que já viveu?
-Na verdade só queria saber como
você estava, já que só fico sabendo noticias suas por seu pai, ultimamente.
Sabia que sinto falta até das nossas brigas? – ela riu e eu a visualizei na
janela do seu apartamento, fumando um cigarro.
-Estou ótima, mãe. E não sinto nem
um pouco falta das nossas brigas.
-É claro que não. Você e seu pai
sempre foram muito parecidos.
-Por isso nos damos tão bem –
retruquei.
-Tenho que confessar que João é o
melhor pai que já conheci e agradeço por ter lhe dado isso de presente.
-Ele é bom em tudo, mãe. Pena que
não soube aproveitar – ela respirou fundo. Sim, estava pegando pesado. Mas só
Deus sabe como foram os meus últimos cinco anos ao seu lado em São Paulo.
-Me conte de você – sempre
desconversando.
-Já disse que estou bem. Agora
preciso desligar. Tenho um trabalho para entregar amanhã.
-Tudo bem, filha. Me liga.
-Pode deixar. Tchau, mãe.
-Tchau, filha. Fique bem.
-Eu estou.
Desliguei o telefone, me sentando no
sofá e pensando em como não conseguia sentir falta da minha própria mãe.
Resolvi não contar ainda do meu namoro com Léo para evitarmos discussões já
tidas quando morávamos juntas. Pois o maior absurdo que poderia acontecer na
minha vida, na visão de Maria Elisa, era eu apaixonada e presa aos vinte anos.
Mas o que ela não sabia, era que isso era tudo que sempre almejei na vida.
Estar na minha cidade, ao lado do meu pai e namorando meu peão.
Quando João chegou, arrumei o jantar
para nós e contei sobre a ligação e também da decisão de não falar a ela sobre
Léo ainda. Como sempre o pai me respeitou, não antes de dizer que precisaria ir
com calma, porque acima de tudo Maria Elisa era minha mãe.
Não querendo prolongar o assunto
disse que tinha trabalho para entregar, por isso, depois de arrumar a cozinha
subi para meu quarto, enquanto ele ainda assistia seu jornal.
Abri o computador e vi que meu Skipe piscava com duas mensagens de Léo
e uma da Jessy.
Resolvi que com minha amiga
conversaria amanhã, já que com certeza deveria saber que eu e seu irmão
tínhamos feito as pazes. Mas com Léo falaria, queria colo e relaxar um pouco.
Então digitei.
“Oi.”
A resposta veio instantânea.
“Por
que não me ligou?”
“Porque
hoje já fiz muita besteira. Estou melhor escrevendo... kkk”
Tentei fazer graça.
“O
que foi, pequena? Eu já te conheço até escrevendo.”
Sorri.
“Maria
Elisa me ligou, que radar, hein.”
“E
aí, o que tua MÃE queria?”
Enfatizou.
“Queria
saber como eu estava”.
“E
tu?”
“Respondi”.
“Só
isso? Bia, não acha que...”
“Amor,
podemos falar de nós um pouquinho?”
“Tipo
das tuas estratégias de escalada e fugir dos assuntos que te machucam?”
“É”.
“Podemos,
pequena. Mas ainda quero conversar contigo sobre isso”.
Eu sabia que Leonardo não desistiria
com facilidade.
“Tudo
bem. Mas agora quero te falar que estou abraçada com Bartolomeu” .
Podia imaginar ele esfregando o
rosto com as mãos, pela demora da resposta.
“Esta
querendo que eu escale essa janela ainda hoje, Maria Beatriz?”
“Não
seria má ideia, amor.”
E assim terminamos nosso dia cheio
de atropelos. Rindo e nos divertindo no Skipe.
Ai eu perguntava, será que era tão
errado pedir uma vida assim?
Simples e feliz.
Não, não era.
Dormi abraçada com Bartolomeu, mesmo
com Léo enchendo o saco.
Mas quem não tinha peão, dormia com
o urso mesmo.
.................................................................
Ai, que lindo!!!!!!
Como eu amo esses dois...
Léo será o pilar de Bia nessa nova batalha...
Mas...
Antes disso...
O monstro do curral volta a atacar?
Ah, não!!!!!!!!!!
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Ai, que lindo!!!!!!
Como eu amo esses dois...
Léo será o pilar de Bia nessa nova batalha...
Mas...
Antes disso...
O monstro do curral volta a atacar?
Ah, não!!!!!!!!!!
-Nós nos apaixonamos.
-Cala a boca, Jessianny. A conversa ainda vai chegar ai – Léo gritou, fazendo minha amiga se retrair e André se colocar na frente dos dois, assim como eu. – Tu eras meu amigo, seu canalha, e agora está comendo minha irmã – tentou avançar para cima deles, mas eu e Boi o seguramos.
-Não ouviram o que o Léo falou – Boi gritou para a roda de gente que havia se formado em nossa volta. – Fora todo mundo! – e em menos de dois minutos o apartamento estava vazio.
-Eu te fiz uma pergunta, tchê.
-Ninguém esta comendo ninguém, Léo. A gente se ama, como tu e Bia.
-Como ama, se até esses dias a gente pegava todas por aí?
Uau! Essa me ofendeu, então resolvi me meter.
-E assim como tu, ele se apaixonou, ou o que estamos vivendo é só um passatempo, Leonardo Ávila? – bati no seu peito.
-Não é isso, Maria Beatriz. Porra! Mas ela é minha irmã.
-E eu a filha do delegado, – desafiei.
Ui, isso vai dar bronca! Adorei, como sempre sou apaixonada por aquilo que escreve! Um enorme beijo e bom resto de semana ;)
ResponderExcluirSó passando para deixar um OI!!!
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