quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Léo e Bia... Capítulo 11


Capítulo 11 – Ele não me quer
"Você só tem... Que acendê-la... E deixá-la brilhar... Domine a noite... Como no dia da Independência... Porque, baby, você é um fogo de artifício... Vá em frente, mostre o que você vale... Faça-os sair "Ah, ah, ah!"... Enquanto você é atirado pelo céu "Ah, ah!"
Katy Perry - Firework
            Acordei naquela quinta feira radiante. E nem o frio que já começava a mostrar as caras em Santa Maria me faria desanimar. Pulei da cama ao som alto de Katy Perry, indo direto para debaixo do chuveiro.
            Lá eu cantei, sorri e gritei.
            Sim, eu estava feliz.
            Desliguei o chuveiro, me enrolando na toalha,mas na hora que abri a porta, que dava de frente para minha cama, quase morri de susto.
            -Quer me matar do coração? – Léo estava esparramado na cama todo faceiro.
            -Digo o mesmo para ti – me olhou de cima embaixo. – De toalha é sacrilégio, Maria Beatriz – esfregou o rosto.
            -Se quiser eu tiro – fiz menção de arrancar a toalha, me aproximando dele.
            -Não! – Léo gritou colocando as mãos em frente ao corpo.
            -Como não? – perguntei retrocedendo e amarrando ainda mais a tolha no meu corpo. – Tu não me queres, é isso?
            -Bia...
            -Claro que não! – balancei a cabeça, sentindo as lágrimas brotando nos meus olhos. – Tu és como todos esses homens por aí, que querem a namorada para pedir a mão para o pai e as piranhas para comer na rua. Tudo bem, eu já entendi.
            -Mas que porra é essa que estás falando? Não sei como era sua vida em São Paulo, mas aqui as coisas são diferentes, pelo menos eu sou diferente.
            -O que está querendo dizer com isso, que eu era uma piranha em São Paulo? Tu não me conheces, Leonardo. Eu sou... Deixa para lá.
            - És virgem, Maria Beatriz? – vi seus olhos brilharem.
            -E inexperiente. Agora saí do meu quarto e vá atrás de quem possa te dar prazer. Porque essa aqui, só serve para ser levada à quermesse.
            -Vamos conversar – ele tentou se aproximar.
            -Saí do meu quarto, Leonardo – apontei para a porta.
            -Não tem diálogo contigo mesmo.
            -Olhe quem fala – senti que as lágrimas já começavam dar o ar da graça e o vi sair pela janela.
            -Estava testando o seu esquema – naquela hora queria que o chão se abrisse e me engolisse para sempre. Ele tinha escalado minha janela.
            -Léo – o chamei mais já era tarde. Meu namorado já tinha sumido.
Desabei na cama sem coragem para mais nada.
Droga!
Eu havia estragado tudo de novo. Será que o Léo teria paciência comigo? Mas ele não me quis...
-Por que, Léo? - chorei ainda mais – Tu dizias que me amava – abracei Bartolomeu e esqueci de todo o resto.
Não sei por quanto tempo fiquei ali enrolada na toalha, até ouvir a campainha tocar desesperadamente. Será que o Léo tinha voltado? Não, ele não tinha. Pois o conhecendo já razoavelmente bem, só tocaria a campainha novamente quando João estivesse em casa.
Arrastei-me da cama, vestindo a primeira coisa que vi na minha frente, meu jeans de ontem com uma blusa de lã por conta do frio e desci para abrir a porta, antes que ela fosse arrombada.
-Posso saber por que a senhorita não foi para a aula e meu irmão está cantando pneu por toda Santa Maria? – Jessianny entrou como um tiro na sala.
-Ele não me quer, Jessy – desabei nos braços da minha melhor amiga.
-Como assim, estás louca, guria? O Léo não fala em outra coisa a não ser de ti, desde que se conheceram no aeroporto. Vamos nos acalmar? – colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. – Vocês brigaram?
-Ele não me quis, quer dizer... – fiquei morrendo de vergonha, mas resolvi contar tudo o que havia acontecido no meu quarto um pouco antes dela chegar.
-É por isso? – Jessy deu de ombros. – Bia, olha para mim, – segurou meu rosto – meu irmão te ama e tenho certeza que ele te quer tanto quanto tu o que queres. Mas o Léo é assim – sorriu – mesmo não parecendo, o guri é romântico, amiga. O que foi aquele pedido de namoro e o jantar com o João ontem me diz? Nem o André é tão romântico assim. Eu o conheço desde sempre e te garanto que nunca te deixaria para ir atrás de algum rabo de saia. Seu namorado é fiel, Maria Beatriz – se eu já queria ser engolida por um buraco antes, naquele momento queria morrer e ser enterrada.
-Mas eu sou virgem, Fabi.
-E eu sou o quê? – levantou as mãos. – Agora sim que o Léo vai querer que seja especial.
-Eu sempre sonhei com esse dia. Me entregar para o homem que realmente amo – funguei – e quando o vi ali na minha cama, achei que...
-Diga isso a ele, amiga.
-Ele não vai querer me ouvir. O Léo é rabugento – ela gargalhou, jogando-se no sofá.
-Tu tens razão, o guri não é flor que se cheire, mas está louco para ver a marrentinha dele dar o braço a torcer – bateu na minha perna. – O que está esperando para ir atrás do seu namorado, cunhada?
-Eu vou – levantei meio desnorteada. – Mas onde posso encontrá-lo? Tu disseste que ele estava descontando na pobre da caminhonete – ela riu.
-Eu sei onde ele pode estar.

Estacionei o jipe na frente do curral, ao lado da sua caminhonete, mas hesitei em entrar, pois da última vez que tínhamos nos visto lá dentro as coisas não tinham sido agradáveis. Mas respirando fundo entrei de mansinho, escutando sua voz serena.
-Ei, mimosa. Por que as gurias têm que ser tão complicadas?
-Porque temos medo de perder nossos homens – Léo me olhou triste e aquilo me corroeu mais do que soda caustica. – Nós somos chatas e complicadas mesmo, peão. Mas eu te amo.
-Como é difícil te entender.
-Eu sei, às vezes também não consigo – sorri fracamente, tentando controlar o choro. – Me perdoa, amor. Eu tentei precipitar as coisas e entendi tudo errado. – Léo saiu de perto da Mimosa, sentando em um banco esquecido ali e eu o acompanhei em silêncio. Já tinha falado demais, quase estragando tudo.
-Tu achas mesmo que não te quero, Maria Beatriz? – não consegui responder, já que as teimosas lágrimas voltaram a cair. – Eu te quero e muito, guria. Naquele dia da Kiss tu quase me mataste – balançou a cabeça, frustrado. – Mas quero que seja bonito e não uma rapidinha antes da aula com medo do João voltar.
-Eu sei – limpei o nariz, ainda olhando para baixo, envergonhada. – Léo. Eu não sou qualquer uma. Nunca fiz isso, queria que fosse com alguém que eu amasse para sempre.
-Nunca pensei nada errado de ti, pequena – ele me puxou para seu colo e ali eu estava em casa. Deitei a cabeça no seu peito sentindo seu cheiro gostoso, que era uma mistura de amaciante e colônia.
-Tenho a impressão que todo mundo pensa que sou como minha mãe, Léo. Mas não sou. Eu só quis isso aqui a minha vida inteira – aconcheguei-me ainda, mas no seu colo. – Alguém para me amar e me fazer feliz. E ela e nem ninguém nunca me entenderam.
-Como é a tua relação com sua mãe?
-Péssima – falei abafado, escondendo o rosto no vão do seu pescoço. – Maria Elisa queria que eu fosse como ela, depois que abandou João. Liberta. Cada dia com um namorado diferente. Dizia que na minha idade eu tinha que curtir a vida. Mas eu nunca fui como ela.
-E tu falavas isso para ela? – Léo, de mansinho, tentava conversar sobre minha mãe, acariciando minhas costas.
-É muito difícil conversar com ela, Léo. Sempre batemos de frente e acabamos brigando.
-Mas ela é tua mãe, pequena.
-E a gente estava falando de nós, lembra? – ele riu, beijando meus cabelos.
-Nós dois não temos mais jeito, marrentinha, – olhei assustada para ele, que ria – Não vou largar nunca mais de ti, guria.
-Mas...
-Fiquei puto, Maria Beatriz. Porra! Não é tão fácil como imagina escalar aquela janela – sorri, o encarando.
-Mas tu vais fazer de novo, não vai?
-Se não me atacar de toalha de novo, porque a carne aqui é fraca – piscou para mim.
-Aí, que vergonha – devo ter ficado da cor de um pimentão.
-Estou brincando, pequena. É claro que vou escalar aquela janela de novo, não quero ver tu agarrada só naquele urso. Oh, bicho sortudo da porra – gargalhei.
-Foi tu que me destes, amor.
-Mas é ele que dorme contigo e não eu. Preciso inverter isso.
-Então preciso te contar uma coisa.
-O quê? – perguntou curioso.
-Eu dei o nome para ele – sorri faceira.
-E aí?
-Bartolomeu – Léo me olhou confuso e gargalhou.
-Bartolomeu – repetiu o nome do pobre causador do seu ciúme. – É, pequena, tu és bem criativa – me deu o beijo que estava esperando desde quando escalou minha janela, atacando minha boca ferozmente, fazendo os dois gemerem quando as línguas se tocaram. – Deixe fazer com que  nossa primeira noite seja uma das melhores da nossa vida? – disse com nossas testas coladas.
-Deixo. É claro que deixo – o beijei novamente e nossa briga foi esquecida naquele momento. Nada me separaria do meu peão, nunca.
-Maria Beatriz, me faz um favor?  Deixa a janela aberta para facilitar minha vida também.
-Pode deixar.
            Ficamos ali no curral o resto da manhã, apenas nos curtindo. Aproveitei para mostrar a nova foto do perfil do meu facebook, que era a que tínhamos tirado juntos na noite passada, fazendo com que ele mudasse a sua também. Almoçamos com seus pais na fazenda, com dona Luíza não cabendo em si de tanta felicidade e seu Flávio, com um sorriso de orelha a orelha. Lembrei que Jessy e André deveriam também estar aproveitando a trégua de Léo naquela hora namorando a vontade.
Até que nossa briguinha tinha servido para alguma coisa. Mas, tínhamos que assistir aula, pelo menos à tarde, então fomos juntos para a faculdade, cada um no seu carro, mas sempre grudados, mesmo que pelo olhar no retrovisor.
            No final da tarde, cheguei em casa exausta, ainda tendo um trabalho para entregar no dia seguinte, roupa para colocar na máquina e o jantar para fazer.
            Falei para Léo que ligaria quando terminasse tudo, mas acho que não haveria escalada naquele dia, na verdade os dois estavam mortos.
            Brigar cansava também.
            Estava terminando de colocar a última remessa de roupa na máquina quando o telefone de casa começou tocar desesperado. Corri até a sala e atendi sem olhar para o visor.
            -Alô.
            -Só assim para conseguir falar com você. Tudo bem, filha? Lembra que ainda tem mãe? – o Léo só podia ter um radar, pois me fez lembrar mais cedo, que sim, eu tinha uma mãe.
            -Oi.
            -É só isso que tem para me dizer depois de quase um mês, Maria Beatriz?
            -O que quer saber, mãe? Como está a faculdade, coisa que nunca teve interesse de me perguntar quando morávamos juntas, ou como esta a pior cidade que já viveu?
-Na verdade só queria saber como você estava, já que só fico sabendo noticias suas por seu pai, ultimamente. Sabia que sinto falta até das nossas brigas? – ela riu e eu a visualizei na janela do seu apartamento, fumando um cigarro.
-Estou ótima, mãe. E não sinto nem um pouco falta das nossas brigas.
-É claro que não. Você e seu pai sempre foram muito parecidos.
-Por isso nos damos tão bem – retruquei.
-Tenho que confessar que João é o melhor pai que já conheci e agradeço por ter lhe dado isso de presente.
-Ele é bom em tudo, mãe. Pena que não soube aproveitar – ela respirou fundo. Sim, estava pegando pesado. Mas só Deus sabe como foram os meus últimos cinco anos ao seu lado em São Paulo.
-Me conte de você – sempre desconversando.
-Já disse que estou bem. Agora preciso desligar. Tenho um trabalho para entregar amanhã.
-Tudo bem, filha. Me liga.
-Pode deixar. Tchau, mãe.
-Tchau, filha. Fique bem.
-Eu estou.
Desliguei o telefone, me sentando no sofá e pensando em como não conseguia sentir falta da minha própria mãe. Resolvi não contar ainda do meu namoro com Léo para evitarmos discussões já tidas quando morávamos juntas. Pois o maior absurdo que poderia acontecer na minha vida, na visão de Maria Elisa, era eu apaixonada e presa aos vinte anos. Mas o que ela não sabia, era que isso era tudo que sempre almejei na vida. Estar na minha cidade, ao lado do meu pai e namorando meu peão.
Quando João chegou, arrumei o jantar para nós e contei sobre a ligação e também da decisão de não falar a ela sobre Léo ainda. Como sempre o pai me respeitou, não antes de dizer que precisaria ir com calma, porque acima de tudo Maria Elisa era minha mãe.
Não querendo prolongar o assunto disse que tinha trabalho para entregar, por isso, depois de arrumar a cozinha subi para meu quarto, enquanto ele ainda assistia seu jornal.
Abri o computador e vi que meu Skipe piscava com duas mensagens de Léo e uma da Jessy.
Resolvi que com minha amiga conversaria amanhã, já que com certeza deveria saber que eu e seu irmão tínhamos feito as pazes. Mas com Léo falaria, queria colo e relaxar um pouco. Então digitei.
“Oi.”
A resposta veio instantânea.
“Por que não me ligou?”
“Porque hoje já fiz muita besteira. Estou melhor escrevendo... kkk”
Tentei fazer graça.
“O que foi, pequena? Eu já te conheço até escrevendo.”
Sorri.
“Maria Elisa me ligou, que radar, hein.”
“E aí, o que tua MÃE queria?”
Enfatizou.
“Queria saber como eu estava”.
“E tu?”
“Respondi”.
“Só isso? Bia, não acha que...”
“Amor, podemos falar de nós um pouquinho?”
“Tipo das tuas estratégias de escalada e fugir dos assuntos que te machucam?”
“É”.
“Podemos, pequena. Mas ainda quero conversar contigo sobre isso”.
Eu sabia que Leonardo não desistiria com facilidade.
“Tudo bem. Mas agora quero te falar que estou abraçada com Bartolomeu” .
Podia imaginar ele esfregando o rosto com as mãos, pela demora da resposta.
“Esta querendo que eu escale essa janela ainda hoje, Maria Beatriz?”
“Não seria má ideia, amor.”
E assim terminamos nosso dia cheio de atropelos. Rindo e nos divertindo no Skipe.
Ai eu perguntava, será que era tão errado pedir uma vida assim?
Simples e feliz.
Não, não era.
Dormi abraçada com Bartolomeu, mesmo com Léo enchendo o saco.
Mas quem não tinha peão, dormia com o urso mesmo. 

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Ai, que lindo!!!!!!
Como eu amo esses dois...
Léo será o pilar de Bia nessa nova batalha...
Mas...
Antes disso...
O monstro do curral volta a atacar?
Ah, não!!!!!!!!!!

-Nós nos apaixonamos.
-Cala a boca, Jessianny. A conversa ainda vai chegar ai – Léo gritou, fazendo minha amiga se retrair e André se colocar na frente dos dois, assim como eu. – Tu eras meu amigo, seu canalha, e agora está comendo minha irmã – tentou avançar para cima deles, mas eu e Boi o seguramos.
-Não ouviram o que o Léo falou – Boi gritou para a roda de gente que havia se formado em nossa volta. – Fora todo mundo! – e em menos de dois minutos o apartamento estava vazio.
-Eu te fiz uma pergunta, tchê.
-Ninguém esta comendo ninguém, Léo. A gente se ama, como tu e Bia.
-Como  ama, se até esses dias a gente pegava todas por aí?
Uau! Essa me ofendeu, então resolvi me meter.
-E assim como tu, ele se apaixonou, ou o que estamos vivendo é só um passatempo, Leonardo Ávila? – bati no seu peito.
-Não é isso, Maria Beatriz. Porra! Mas ela é minha irmã.

-E eu a filha do delegado, – desafiei.






  


2 comentários:

  1. Ui, isso vai dar bronca! Adorei, como sempre sou apaixonada por aquilo que escreve! Um enorme beijo e bom resto de semana ;)

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