“Sou teu ego, Tua alma, sou teu céu, Teu inferno, a tua calma. Eu sou teu tudo, sou teu nada. Minha pequena és minha amada. Eu sou teu mundo, o teu poder. Sou tua vida, sou meu eu em você.”
Meu
eu em você – Vitor e Léo
-Tu não
precisas ir para a faculdade hoje, filha – e perder meu primeiro dia ao lado do
meu peão? Não, pai, eu iria mesmo ardendo em febre.
-Não, pai.
Já estou melhor. A febre cedeu.
-Tem
certeza? – tocou minha testa, carinhosamente.
-Claro que
tenho. E não se preocupe, fui muito bem assistida – sorri para ele.
-Graças a
Deus temos amigos muito bons, não é, filha? – e como? Suspirei, lembrando de
Léo e vendo que já estava atrasada.
-Verdade,
eles são nossa família também – foi a vez de João sorrir. – Depois quero saber
diretinho como foi a pescaria e nem pense que vou limpar aquilo que está no
freezer – ele gargalhou da minha careta.
-Pescador
de verdade, pesca e limpa, guria. Ninguém havia te contado isso – levantei,
beijando seu rosto.
-Já,
Delegado. E acho bom. Ah! E por falar
em freezer, não fiz comida esse final de semana, mas trouxe algumas coisas da
fazenda, está na geladeira, é só esquentar. Hoje não venho almoçar, mas o
senhor trate de comer.
-Sim,
senhora. E sou louco de desobedecer a filha do Delegado? – fez graça.
-Tu és um
senhor ajuizado – rimos e subi para o banheiro escovar os dentes.
-Pode
deixar que tiro a mesa – ele gritou do andar de baixo – ainda sei fazer alguma
coisa na cozinha.
-Sabe mesmo
e agradeço – falei com a boca cheia de espuma.
Já na
faculdade, peguei meus cadernos, me preparando para travar o jipe, quando
Maurício, um dos meus colegas de turma me chamou.
-Bom dia,
Bia. Como estás, guria? – ele era um cara legal, um dos dois meninos da minha
turma que achava que era gay. Claro, que o Vinicius era bem mais atirado, não
deixando ninguém o chamar pelo nome, e sim de Vinny, sorri lembrando dele.
-Bom dia,
Maurício. Como foi seu final de semana prolongado? – desci do carro, depois de
travá-lo.
-Bom. Te vi
na Kiss no sábado, mas depois sumiu.
A danadinha se arrumou por lá – senti meu rosto esquentar. – Desculpe, não
queria ser indiscreto.
-Não foi
não. Aquele dia fui embora mais cedo, infecção de garganta – apontei para o
pescoço.
-Nossa que
chato, mas agora está bem?
-Melhor,
obrigada. Mas tu querias me falar alguma coisa – ele sorriu, lembrando do
assunto.
-Perdi a
matéria de sexta feira, tive que ir embora mais cedo – percebi mesmo, ele e
Vinny saindo à francesa no meio da aula. Sei não. Sorri dos meus pensamentos. –
Tu não me emprestarias depois o que o professor passou? Vai ser a matéria da
próxima prova, certo?
-Isso –
escutei o barulho do trambolho de Léo encostando ao lado do jipe e sorri, pois
meu peão havia chegado. Mas quando desceu do carro senti que Léo estava para
poucos amigos.
-Posso saber o que está acontecendo aqui? –
Léo enlaçou os braços na minha cintura.
-Eu que te
pergunto, Leonardo. O que é isso? – o enfrentei, não entendendo nada. – Me
desculpe, Maurício, a gente se fala depois. Eu separo a matéria para ti, ok!
-Obrigado,
Bia.
Olhei para
Leonardo e saí de perto dele cuspindo fogo. Como pode tratar as pessoas desse
jeito? Que mal criado, mas como sempre, o desgraçado foi mais rápido prensando
meu corpo na caminhonete.
-Desculpa,
– passou o nariz no meu pescoço, me deixando completamente entregue a seus
braços – mas eu perco a razão só de pensar...
-Pensar em
quê? – ele me olhou confuso.
-Bia, o
nosso final de semana. A gente se beijou... E eu não costumo beijar qualquer
uma, quer dizer...
- Que bom
que não sou qualquer uma, não é, Leonardo? – estava ficando nervosa tentando
entender aonde aquela conversa nos levaria.
-Será que a
gente pode conversar em outro lugar? – ele abriu a porta da caminhonete para
que eu entrasse. – Vem comigo.
Léo deu a
volta no carro, sentando no banco do motorista e arrancando rapidamente dali.
O trajeto foi feito em silêncio e
meu coração, disparado, me denunciava completamente. Pois a impressão que tinha
era que Léo conseguia escutá-lo de onde estava.
Ele ligou o som e as vozes de Vitor
e Léo invadiram o carro, o que me aliviou, mas quando prestei atenção na música
que começou a tocar durante do trajeto...
Oh, meu
Deus!
O carro parou e quando olhei para
frente, percebi que estávamos no nosso lugar.
Ele desceu do carro, com o refrão de
“Amigo Apaixonado” gritando nos
falantes do carro, porém ainda mais no meu coração.
-Desce, Bia.Vai ficar aí para
sempre? – foi ali que percebi que ele estava com a minha porta aberta e a mão
estendida para que eu pudesse pegar.
-Você só é educado quando quer,
Leonardo – revirei os olhos, dispensando sua
mão e indo até a ponta do mirante, de costas para ele.
-Eu sei que não sou o cara mais
perfeito do mundo, Maria Beatriz – respirei fundo, pois meu nome inteiro saído
de sua boca causava-me arrepios. – Mas eu quero te mostrar que posso ser, quer
dizer...
-Fala, Léo – virei meu corpo e
nossos rostos ficaram a centímetros de distância.
-Desculpa pelo show agora pouco –
ele estava se contorcendo por dentro, eu sabia. Para Leonardo, pedir desculpas
e assumir um erro era uma missão quase impossível, mas comigo isso estava se
tornando rotineiro. – Mas tu também quase jogaste todo aquele troço de morango
na cara da Mônica no sábado – revirei os olhos da lembrança.
-Não precisa me lembrar disso.
-Claro que precisa. Preciso te
mostrar que não sou o único ciumento e possessivo – ele riu fracamente, olhando
para baixo. – Porra, Bia! A gente passou o final de semana juntos – ele tocou
meu rosto carinhosamente – e quando passo na sua casa para te buscar hoje não
te encontro e ainda por cima, chegando na faculdade vejo tu conversando toda
feliz com aquele Mané – revirou os olhos, fazendo-me rir. Nunca diria que
desconfiava que Maurício e Vinny eram namorados.
-Ele estava pedindo uma matéria
emprestada e eu apenas sendo simpática.
-Eu sei, mas não consigo ver tu
conversando e rindo com outro cara que não seja eu – sorri disfarçadamente. –
Mas, espera. Pensei que só mulher fizesse seu curso – sabia que ele não
deixaria barato.
-Machista – bati no seu peito,
irritada. Leonardo tinha o dom de estragar qualquer momento romântico. Não, ele
conseguia ser lindinho também, principalmente quando não estava encarnando o
monstro do curral. – Existem muitos homens terapeutas. Homens de verdade –
enfatizei. – E também faço matérias eletivas em outros cursos, por conta da
minha carga horária de São Paulo, por isso não tenho só mulheres como colegas
de curso, assim como você – pisquei, fazendo-o lembrar da sua amiguinha da Kiss.
-Bom saber, quem sabe a gente possa
fazer alguma matéria junto, assim eu posso ficar mais perto de ti.
-Ou de olho em mim, você quer
dizer... Nem pense nisso – me afastei um pouco. – Foi para isso que me trouxe
aqui? Estou perdendo aula.
-Pequena, – me puxou, colando nossos
corpos novamente – para mim é difícil, eu não falo e nem escrevo tão bonito
como ti. Sou um bicho do mato mesmo, mas...
-Mas... – nossos olhos se conectaram
e podíamos sentir os dois corações descompensados.
-Eu me apaixonei por ti. Acho que
desde a primeira vez que nos vimos, até antes – ele tocou meu rosto, rindo. –
Tão linda, estabanada... Desde aquele dia você mexeu com meu coração – colocou
minha mão em cima do seu peito e pude sentir uma escola de samba ali dentro. –
O tempo foi passando, tu foste se transformando em minha amiga, mas a cada dia
percebia que não conseguia mais viver longe da minha marrentinha – sorri do meu
apelido “carinhoso”. – Tu me enfrentaste, brigou comigo, me fez enxergar que
podemos nos divertir juntos sim e que nenhuma mulher chegaria a seus pés. Eu
não tenho mais vontade de sair se tu não estiveres comigo. Um cigarro não tem o
mesmo gosto se não for compartilhado com você. A caminhonete não tem mais graça
se tu não estiveres brigando do lado. A música não tem mais sentido se não for
cantada contigo. Minha vida é você agora – respirei fundo, tentando fazer o ar
voltar aos meus pulmões. - Sei que não sou o cara mais bonito, o mais legal.
Sou chato, cheio de manias, possessivo, machista, mas eu te amo – sorri em meio
às lágrimas que teimavam em cair. – Você quer namorar comigo, Maria Beatriz
Albuquerque?
-Pensei que nunca fosse me pedir – o
beijei impetuosamente. E quando nossas línguas se encontraram, uma explosão de
sentimentos nos invadiu, fazendo com que Léo me tirasse do chão, girando os
dois corpos até cairmos na grama.
-Jura que me ama? Que quer namorar
comigo? – ainda estava no seu colo, encantada com aquele sorriso lindo.
-Tu és um chato, grosso, possessivo,
machista, – ele revirava os olhos de cada “adjetivo” que lhe dava – mas também
fez com que me apaixonasse desde o nosso atropelamento lá no aeroporto –
sorrimos juntos. – Eu te amo sim, seu chato. Amo nossas brigas. Amo nossas
farras. Amo nossas festas. Amo nossos cigarros compartilhados, amo nosso
companheirismo. Amo estar contigo, fico infeliz sem ti. Mesmo que isso me cause
muita raiva, como agora pouco. Tu quase bateste no menino, Leonardo.
-Eu sei – deu de ombros. – Você
quase jogou aquele coquetel de morango na cara na menina.
-Precisamos nos controlar – ele
gargalhou e peguei seu rosto entre minhas mãos pequenas. – Eu te amo e queremos
ficar juntos. Isso basta, não basta?
-Se bastar para ti, basta para mim.
Estás disposta a domar esta fera aqui? – ele riu, fazendo graça.
-Pensei que nunca diria isso também
– sorri, o beijando novamente, agora ao som de “Meu eu em você”.
-Eu quero que tu tenhas orgulho de
mim, pequena – nossas testas estavam coladas.
-Mas eu tenho!
-Mas também tem vergonha – ele
baixou os olhos novamente.
-Não tenho não. Só precisa aprender
a domar um pouquinho, só um pouquinho – demonstrei com o dedo – o monstro do
curral – Léo gargalhou, com a revelação do seu novo apelido.
-Eu sou bom em apelidos, mas tu me
superou muito com esse! – ganhei uma mordida na ponta do dedo.
-Aiiii, isso doi! – ele beijou o
local.
-Mas, agora é sério. Prometo que vou
tentar me controlar, estou melhorando, não estou?
-Está – fui sincera.
-Por ti eu faço tudo.
-Tu tens que fazer isso por você,
Leo, não por mim.
-Mas fazendo por ti, vou estar
fazendo por mim também, escuta – ele ergueu a mão para que eu escutasse a
música ao fundo. – Eu sou você, Maria Beatriz – nos beijamos novamente,
permanecendo ali apenas sentindo nosso amor, irradiando como o sol que brilhava
naquela manhã linda de outono. – “Sou teu
ego, Tua alma, sou teu céu, Teu inferno, a tua calma. Eu sou teu tudo, sou teu
nada. Minha pequena és minha amada. Eu sou teu mundo, o teu poder. Sou tua
vida, sou meu eu em você.”
-Eu te amo – sem perceber estava
chorando novamente com essa linda homenagem cantada no meu ouvido.
-Não chora, pequena. Eu não canto
mais.
-Canta sim. Eu amo quando cantas
para mim.
-E eu amo cantar para ti, amor.
-Fala de novo?
-O quê? – Léo sempre tão lerdo.
-Amor – olhei meiga para ele.
-Meu amor, – ele beijou minha
bochecha molhada – minha pequena, – beijou meu pescoço – minha marrentinha mais
linda – beijou meus lábios, os abrindo e fazendo novamente com que nossas
línguas se encontrassem.
O que dizer daquela manhã, a não ser
que ela havia sido perfeita.
Passamos o resto dela, ali, apenas
nos curtindo. Felizes por termos “resolvido”
nossas pendências, como namorados.
E se dissesse que estava feliz,
estaria longe do sentimento que naquele momento aquecia meu coração.
Meu peão.
Sim, meu!
Léo havia se declarado da forma mais
linda. Ele havia sido humilde, queria melhorar, por mim. Eu sabia que
conseguiria, ele já tinha mudando nesses últimos dias e foi então que percebi
que Jessianny tinha razão. Eu o transformaria em uma pessoa melhor, apenas por
amá-lo e isso aconteceria comigo também, porque o queria sempre ao meu lado.
O amor era assim.
Ele não mudava as pessoas. Mas
comecei a aprender ali naquela manhã que poderíamos melhorar por ele e isso era
muito especial.
No meio do dia, nossas barrigas
começaram a roncar, por isso chegamos de mãos dadas ao Mcdonalds.
-Nada como uma comida saudável e
adulta para começar um namoro – brindei com nossas cocas, fazendo graça.
-E por falar em pessoas adultas,
quero pedir sua mão – Léo disse simplesmente, tomando mais um gole da sua
bebida.
-Não acha que estamos meio evoluídos
para isso?
-Claro que não. Disso não abro mão,
Maria Beatriz. Quero ir na sua casa hoje pedir sua mão para o Delegado – claro
que o pai soltaria fogos de artifícios com essa novidade.
-Hoje não – esbravejei.
-Por que, não?
-Já que quer ir em casa, preciso
preparar as coisas por lá – ele gargalhou, esparramando-se no sofá da
lanchonete.
-Pequena, sou o genro que o João
pediu a Deus! – revirei os olhos.
-Mais se sente demais, meu Deus! –
joguei as mãos para o céu o vendo sorrir mais. – Não é isso, Leonardo. Quero
preparar um jantar especial.
-Essa parte me interessa – piscou
para mim.
-Então ficamos combinados?– estiquei
a mão que prontamente ele pegou, me colocando no seu colo.
- Combinados, amor – sorri,
aconchegando-me no seu peito.
-Eu amo quando me chama assim,
sabia?
-Sabia. E esse vai ser o jeito de te
amansar quando o monstro do curral voltar a atacar – bati em seu braço.
Sim, estávamos namorando, nos amando
e muito felizes...
Mas isso não queria dizer que nunca
mais iríamos brigar.
Tínhamos começado nosso
relacionamento assim e não poderíamos perder esse jeitinho gostoso de depois
fazer as pazes.
Cenas dos próximos capítulos....
Cenas dos próximos capítulos....
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